Na literatura médica acalasia refere-se a um distúrbio funcional e raro do esôfago. Levando a que o músculo do esfíncter esofágico inferior não relaxe ao engolir – ao contrário do que acontece em pessoas saudáveis. Os sintomas característicos de acalasia incluem desconforto ao engolir, regurgitação de restos de comida e sensação de peso no peito. Na maioria dos casos, a causa é desconhecida. É importante que os sintomas descritos pelo paciente sejam avaliados através de endoscopia, pois em alguns casos o câncer de esôfago é o motivo para esses desconfortos. Saiba mais.
O esôfago é um músculo em forma de tubo revestido por uma mucosa. Dentro da camada muscular estão as células nervosas conectadas umas às outras (o chamado plexo de Auerbach ou plexo mioentérico). Elas lidam com os movimentos do esôfago durante a deglutição, transportando o quimo inteiramente da boca até o estômago.
Existe uma válvula/anel (esfíncter esofágico inferior) entre o estômago e o esôfago que impede o retorno desse quimo e ácido clorídrico para o esôfago. O esfíncter esofágico inferior é portanto o responsável (pela tensão e distensão do músculo) por conduzir o alimento ao estômago e evitar que esse conteúdo estomacal volte para trás.
Quando o paciente sofre do distúrbio, o plexo de Auerbach falha, levando a que o esfíncter esofágico inferior não relaxe. Nestes casos, a entrada para o estômago fica tão fechada que os alimentos não conseguem atingir o seu interior. A comida fica “literalmente” presa na garganta.
Resumindo: o esfíncter esofágico inferior controla a entrada dos alimentos da extremidade inferior do esôfago até o estômago. Na presença de acalasia, os nervos que controlam este esfíncter são afetados, impedindo que relaxem e que a comida passe.
Não é uma condição muito comum. Geralmente existe apenas um novo caso diagnosticado por ano (a cada 100.000 habitantes). Pode ocorre em qualquer idade, mas é mais comum em adultos de meia-idade ou idosos.
Sintomas
Os sintomas de acalasia geralmente iniciam lentamente e progridem gradualmente (ocorrem de forma ocasional e moderada no primeiro estágio da doença). Posteriormente, começam a afetar negativamente o quotidiano do paciente. Eles incluem:
- dificuldade em engolir (disfagia), que pode ser muito dolorosa;
- um nódulo ou sensação de plenitude na garganta;
- dor no peito;
- azia;
- regurgitação de alimentos ou líquidos não digeridos (incluindo quando dorme),
- tosse ou asfixia (devido à regurgitação dos alimentos), que pode piorar à noite,
- soluços,
- dificuldade em arrotar,
- perda de peso.
Sensação de peso na região do peito: Em um tipo específico de acalasia (com hipermotilidade), os movimentos do esôfago (peristaltismo) aumentam, podendo desencadear dores intensas na região do tórax, que podem ser confundidas com desconfortos no coração.
Causas
A acalasia é causada pela falha de um conjunto de nervuras (plexo de Auerbach) localizadas na parte inferior do esôfago que interrompem o suprimento dos músculos esofágicos.
As causas para este fato são desconhecidas ou não totalmente compreendidas: em 97% dos casos é considerada idiopática (sem causa conhecida). Observa-se uma tendência familiar em 2% dos pacientes. Aproximadamente 1% dos casos ocorre devido a doenças neurológicas (como Parkinson, por exemplo).
Muitas vezes não existe uma razão óbvia para que os nervos do esôfago não funcionem adequadamente. Algumas suspeitas incluem:
- infecções virais que danificam os nervos do esôfago;
- condições auto-imunes (quando o sistema imunológico ataca as próprias células do corpo);
- Doença de Chagas – doença infecciosa que pode destruir as células nervosas.
Em casos isolados, a acalasia pode surgir de um tumor localizado na parte superior do estômago (carcinoma do estômago) ou uma infecção como a doença de Chagas.
Exames e diagnóstico
O diagnóstico de acalasia é confirmado de acordo com os sintomas e resultados de alguns exames. Em caso de suspeita é importante consultar um especialista (gastroenterologista) para que sejam realizados os testes necessários. Os mais importantes incluem:
- Exames endoscópicos
- Raios-X
- Manometria
Endoscopia (gastroscopia)
Existem algumas circunstâncias (restos alimentares, inflamações ou um estreitamento visível do esôfago inferior) que podem indicar a presença do distúrbio. Para confirmar o diagnóstico é importante realizar uma endoscopia para descartar outras possíveis causas do desconforto, como por exemplo o câncer de esôfago.
Durante o teste o especialista muitas vezes retira também uma amostra de tecido (uma biópsia) do esôfago ou estômago para examinar em laboratório.
Esofagografia ou deglutição de bário
A esofagografia é um teste comum do Trato Gastro Intestinal que envolve ingerir um contraste (líquido espesso contendo bário) que reveste o interior do esôfago e estômago para melhorar a visualização interna através de raio X. Em pessoas com acalasia, o teste geralmente mostra o estreitamento da parte inferior do esôfago. Além disso, também permite avaliar as contrações musculares do esôfago (peristalse).
Deglutição de Gastrografina
Trata-se de um exame semelhante á ingestão de bário – é necessário ingerir um líquido que contém um meio de contraste radiológico (visível ao raio-X) que mostra o tecido interior do esôfago. A Gastrografina é muitas vezes usada quando o paciente não pode administar bário. Também é menos irritante para o organismo, principalmente quando existe vazamento do esôfago, caso este esteja perfurado.
Manometria esofágica
Outro método muitas vezes usado no diagnóstico da acalasia é a manometria esofágica – que ajuda a medir a pressão do esôfago. Em pessoas com o distúrbio, o teste geralmente mostra que a contração muscular necessária para conduzir o alimento ao longo do esôfago está fraca ou ausente, e que o esfíncter esofágico inferior não está relaxando como deveria depois da ingestão dos alimentos.
Complicações e riscos para a saúde
Muitas pessoas com o distúrbio demoram em consultar o médico porque muitas vezes os sintomas não causam grande desconforto. No entanto, é importante procurar aconselhamento médico e tratamento, já que alguns estudos mostram que a condição pode aumentar o risco de câncer de esôfago.
Outras complicações da acalasia podem ocorrer devido à regurgitação do alimento não digerido durante o sono. Se a comida for acidentalmente inalada para os pulmões por exemplo, pode levar a pneumonia, abcessos no pulmão ou danos nos tubos bronquiais.
Outra complicação comum é a inflamação do esôfago (esofagite).
Tratamento
A acalasia é tratada pelo gastroenterologista – especialista que lida com problemas do trato digestivo. Embora o tratamento não consiga reparar os nervos danificados ou restaurar as contrações normais do esôfago, geralmente melhora os sintomas. Para isso estão disponíveis várias medidas terapêuticas com o mesmo objetivo em comum – reduzir a pressão no esfíncter esofágico, de forma a permitir que o alimento passe rápida e completamente do esôfago para o estômago.
Medicamentos
Nos estágios iniciais é conveniente seguir um tratamento medicamentoso que reduza a pressão no músculo inferior do esôfago e consiga atenuar grande parte do desconforto. Estes medicamentos incluem nitratos (como o trinitrato de glicerina) e bloqueadores dos canais de cálcio (como a nifedipina), que também são usados no tratamento da hipertensão arterial e doença coronariana.
No entanto, embora possam ajudar a aliviar temporariamente alguns dos sintomas, eles não são eficazes em todos os casos e tendem a deixar de funcionar com o tempo. Além disso também podem causar efeitos colaterais indesejados, como dores de cabeça e pressão arterial baixa.
Dilatação por balão
A dilatação por balão é realizada com a inserção de um pequeno balão no interior do esfíncter e inflando-o. Este balão alarga o músculo que se estreitou e é o tratamento mais eficaz.
Na maioria dos casos, o desconforto ao engolir melhora durante meses (por vezes anos) com um único tratamento. Após algum tempo é necessário repetir novamente o procedimento.
A vantagem neste tratamento é que o procedimento é realizado sem a necessidade de cirurgia. No entanto, pode trazer algumas complicações (embora raras – 5%), mas graves. As mais importantes são a infecção respiratória originada pela passagem do conteúdo esofágico para as vias respiratórias e a ruptura (perfuração) da parede esofágica (causada pela insuflação do balão – mediastinite), que pode exigir uma cirurgia para reparar o rasgo.
Toxina botulínica
A toxina botulínica (Botox) é uma toxina bem conhecida pela capacidade em relaxar os músculos, incluindo até os que causam linhas de expressão facial e rugas. No tratamento da acalasia a toxina é injetada diretamente no esfíncter esofágico inferior por meio de endoscopia (injeção endoscópica). No entanto, embora seja um procedimento relativamente seguro, o alívio é temporário (geralmente de 3 a 12 meses) e seus efeitos a longo prazo ainda não são conhecidos.
A injeção de toxina botulínica oferece menos riscos que a dilatação por balão e é indicada especialmente em idosos, embora seja estatisticamente menos eficaz.
Cirurgia
A cirurgia é feita para reduzir a pressão no esfíncter inferior, através de um procedimento chamado miotomia (ou miotomia de Heller). Está geralmente reservada a casos em que a acalasia não responde a tratamentos menos invasivos.
Durante o procedimento, o cirurgião divide a musculatura do esôfago inferior (miotomia) através de um corte clássico no abdome (transabdominal) ou através de laparoscopia (cirurgia minimamente invasiva), dependendo da técnica mais adequada ao caso.
Embora a cirurgia seja bem-sucedida em 85% dos casos, 20% dos pacientes desenvolvem refluxo gastroesofágico (DRGE) após a cirurgia – levando o ácido do estômago a subir para o esôfago e causar azia. Durante a cirurgia muitas vezes é realizado um procedimento adicional (fundoplicatura) – um reforço muscular na parte superior do estômago para evitar o refluxo por algum tempo.
Dieta
Nos primeiros dias após o tratamento é importante (quando necessário) seguir uma dieta líquida, passando lentamente para uma alimentação sólida há medida que a deglutição se torna mais fácil.
O iogurte é um alimento fácil de engolir e pode ajudar a minimizar o ácido gástrico.
Nesta fase é importante comer devagar, mastigar bem a comida e beber água suficiente durante as refeições.
As refeições não devem ser realizadas perto da hora de dormir. Dormir com a cabeça levemente elevada pode ajudar a gravidade a esvaziar o esôfago, prevenir a regurgitação ou que os alimentos fiquem presos.
Como prevenir
Não existe uma forma eficaz de prevenir a acalasia, já que as causas que a originam são desconhecidas. No entanto, é possível reduzir o risco de algumas doenças relacionadas, como a inflamação do esôfago, por exemplo – deixando de beber álcool e abandonando a nicotina.
Dr. Antonio Hirt - CRM/PR: 11031
Cirurgia do aparelho digestivo - RQE Nº: 11137
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Cirurgia Videolaparoscópica - RQE Nº: 779
Gastroenterologia - RQE Nº: 21161
Formado pela Faculdade Evangélica de Medicina do Paraná (FEMPAR) em 1987. Mestre em princípios de cirurgia pelo Instituto de Pesquisas Médicas e Doutorando em Marcadores Tumorais em câncer gástrico pela mesma instituição.
Especialista em Cirurgia do Aparelho Digestivo e em Gastroenterologia e Endoscopia Digestiva.
Membro do “Colégio Brasileiro de Cirurgia Digestiva” e da “Federação Brasileira de Gastroenterologista”.
Membro da comissão científica da FBG-Pr.
Contatos: Consultório na Rua Amintas de Barros, 519 conj. 103 - Tel. (41) 3264-2003 ou (41) 99244-3202 (whats) centro - Curitiba - Pr.
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- Harrison: Principios de Medicina Interna; Anthony Fauci, McGraw-Hill; 17ª Edición; 2008; Interamericana de México.
- Tratado de Medicina Interna. Farreras, Rozman; 16º Ed. 2008; Elsevier.
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