O que é? AVC lacunar ou infarto lacunar é o tipo mais comum de acidente vascular cerebral isquêmico, e resulta da oclusão de pequenas artérias que fornecem sangue para as estruturas profundas do cérebro. Ou seja, ele ocorre quando o fluxo sanguíneo para uma das artérias localizadas no interior do cérebro é bloqueado ou interrompido.
Trata-se de um evento extremamente perigoso uma vez que as células cerebrais ao serem privadas de oxigênio, começam a morrer em questão de minutos.
Tipos de AVC isquêmico
Na maioria das vezes os AVCs provocam lesões no tecido cerebral da parte exterior do cérebro, a que se costuma designar por córtex cerebral, ou, por vezes, “lobos”.
No entanto, acontece por vezes que alguns AVC afetam áreas mais profundas do cérebro, abaixo do córtex.
Um AVC numa zona interior do cérebro (por exemplo nos gânglios da base ou no tronco cerebral) é designado por AVC lacunar.
Estas estruturas mais interiores do cérebro recebem o seu fluxo sanguíneo através de um único conjunto de artérias e devido precisamente às características destas artérias, um AVC lacunar ocorre num contexto diferente dos outros tipos de AVC.
Causas
O AVC lacunar ocorre quando uma das artérias que abastecem de sangue as estruturas do interior profundo do cérebro sofre uma oclusão.
Estas artérias são pequenas e especialmente vulneráveis.
Ao contrário da maioria das artérias, cujo diâmetro se vai gradualmente reduzindo à medida que se vão bifurcando através do organismo, as artérias onde o AVC lacunar ocorre saem diretamente numa artéria principal, que funciona sob alta pressão sanguínea.
A pressão arterial elevada (hipertensão) pode desencadear um AVC lacunar devido à forte tensão a que as paredes arteriais são submetidas.
A hipertensão pode danificar estas pequenas artérias, isto porque o seu diâmetro não se reduz gradualmente, ou seja, as paredes interiores destas artérias são submetidas a uma tensão muito elevada.
A hipertensão pode também originar aterosclerose, uma condição caracterizada pela acumulação de depósitos de gordura (placas) ao longo das paredes interiores dos vasos sanguíneos.
Num quadro de aterosclerose, um coágulo pode formar-se no interior destas artérias, e bloquear o fluxo de sangue algures ao longo da artéria.
Contrariamente aos outros AVCs que atingem o córtex cerebral, os AVCs lacunares só raramente são causados por um coágulo que se forma noutra parte do corpo, como no pescoço ou no coração, e que viaja através da corrente sanguínea para o cérebro.
Uma vez que um coágulo se liberte e comece a circular na corrente sanguínea passa a ser designado por êmbolo.
É difícil a um êmbolo circular através das pequenas artérias onde os AVCs lacunares ocorrem. Portanto, regra geral, o AVC lacunar reflete uma alteração local da circulação cerebral profunda.
Muita da área cerebral que pode ser lesada num AVC lacunar ajuda a estabelecer a comunicação entre o tronco cerebral e o córtex cerebral, ou contribui para a coordenação motora fina do corpo.
Num AVC lacunar, apenas são afetadas ou destruídas pela falta de oxigênio as células numa área relativamente reduzida do cérebro (medindo entre 3 milímetros até um máximo de 2 centímetros).
À destruição de uma área tão pequena do cérebro e a sua correspondente imagem na TC cerebral chama-se lacuna.
Um AVC lacunar pode implicar somente uma área mínima do cérebro, mas pode, ainda assim, ter sequelas profundamente incapacitantes.
Sintomas e Manifestações clínicas
Os sintomas do AVC lacunar variam consoante a área do cérebro que for privada de irrigação sanguínea.
Diferentes áreas do cérebro são responsáveis por diferentes funções do organismo, ou seja, diferentes áreas do cérebro controlam o movimento, a visão, a fala, o equilíbrio e a coordenação motora.
Deste modo, os sintomas podem incluir:
- Fraqueza ou paralisia (incapacidade de mover) no rosto, braço, perna, pé ou dedos ;
- Dormência súbita e acentuada em qualquer região do corpo (muitas vezes em apenas um lado do corpo);
- Dificuldade no andar
- Dificuldades na fala (fala arrastada)
- Dificuldades de coordenação sobretudo nos braços e mãos
- Problemas de memória
- Dificuldade em falar ou entender a linguagem falada
- Dor de cabeça
- Perda de consciência ou coma
- Outros sintomas neurológicos.
Numa pessoa com problemas prolongados de tensão alta – e se estes permanecerem sem tratamento – podem ocorrer múltiplos casos de AVC lacunar.
A diabetes, como fator de risco geral cardiovascular também desempenha um papel importante na etiologia do AVC lacunar. Isto pode levar ao desenvolvimento de sintomas adicionais incluindo alterações comportamentais e demência.
A aparição súbita de um ou mais destes sintomas funciona como um sinal de alerta que indica que um acidente vascular cerebral pode estar em curso. Por vezes, os pequenos coágulos responsáveis pela ocorrência de AVCs lacunares, que se formam localmente, interferem com o fluxo sanguíneo apenas durante alguns minutos.
Se o coágulo se dissolver antes da falta de irrigação sanguínea causar danos cerebrais, os sintomas podem aliviar significativamente no espaço de poucos minutos e desaparecer mesmo por completo sem deixar sequelas.
Estes casos em que os sintomas melhoram sem necessidade de tratamento e em que a recuperação total se verifica no espaço de 24 horas, são designados por Acidentes Isquêmicos Transitórios (AIT).
Não obstante, não opte, em caso algum, por esperar para ver se os sintomas desaparecem por si próprios. Dirija-se às urgências com a máxima rapidez, ou contacte o INEM, para que lhe seja prestada assistência médica.
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Como é feito o diagnóstico
O médico irá consultar o indivíduo a propósito do seu historial clínico (nomeadamente se há historial de hipertensão arterial ou doença cardíaca, se fuma, se tem colesterol alto ou diabetes). De seguida verificará os seus sinais vitais (temperatura, pulso, respiração e pressão arterial) e poderá realizar um electrocardiograma (ECG).
Os AVCs lacunares são normalmente identificados por meio de uma tomografia computorizada ou por uma ressonância magnética. Uma técnica de ressonância magnética conhecida por RM com estudo de difusão é particularmente sensível e indicada para detectar AVCs lacunares muito recentes.
Evolução clínica
Se não se verificar uma melhoria dos sintomas durante o período de tempo em que estiver a caminho das urgências, é provável que a ocorrência em causa seja um AVC e não um AIT. Se um AVC lacunar receber tratamento médico adequado num curto espaço de tempo é possível recuperar totalmente do evento.
Caso a medicação consiga restaurar a circulação e, por conseguinte, o fluxo de sangue ao cérebro, os sintomas de um AVC lacunar podem desaparecer no espaço de horas.
Todavia, caso o fluxo de sangue permaneça interrompido durante um período mais longo, os danos e lesões cerebrais podem ser mais graves e os sintomas podem durar muitas semanas ou meses, sendo necessário proceder depois à reabilitação física do doente.
Das ocorrências de maior gravidade podem vir a resultar uma incapacidade permanente no doente.
Como prevenir
É possível prevenir a ocorrência de um AVC lacunar evitando ou monitorizando os factores de risco associados ao AVC – hipertensão arterial, tabagismo, doenças cardíacas e diabetes.
Se sofre de hipertensão arterial ou de alguma doença cardíaca, siga as recomendações do seu médico no sentido de proceder a alterações na sua dieta e para a toma correta da sua medicação.
Pratique exercício regularmente, coma fruta e vegetais, e evite o consumo de alimentos ricos em gorduras saturadas e colesterol.
Se fuma, pode recorrer a uma consulta de cessação tabágica para deixar de fumar. Se sofre de diabetes, vigie frequentemente o seu nível de açúcar no sangue, siga uma dieta adequada e tome a medicação tal como prescrita pelo seu médico.
Se já alguma vez tiver sofrido um AVC lacunar, o seu médico poderá recomendar a toma diária de aspirina ou outra medicação antiagregante, como a ticlopidina (Ticlid) ou o clopidogrel (Plavix).
Estes medicamentos podem sempre reduzir o risco de AVC, mas os seus benefícios têm sido mais evidentes noutros tipos de AVC que não os lacunares.
Se nunca tiver tido um AVC de nenhum tipo, pode reduzir o seu risco de vir a sofrer um ao tomar aspirina diariamente. Existem indícios fortes de que o risco de AVC nas mulheres com mais de 45 anos que tomam uma dose diária de aspirina é menor. Este benefício, porém, ainda não foi constatado no caso dos homens.
Como é feito o tratamento
Se os médicos tiverem possibilidade de prestar assistência médica adequada no prazo máximo de 3 horas após o aparecimento dos sintomas, eles provavelmente farão uso de medicação anti-trombolítica para dissolver coágulos.
Apesar da heparina ser usada com grande frequência para tratar AVCs que afetam as artérias maiores, este medicamento não parece capaz de ajudar à recuperação das vítimas de AVC lacunar.
A vítima de AVC lacunar é, por norma, hospitalizada de modo a permanecer sob observação médica rigorosa para precaver um eventual agravamento dos sintomas. Nos casos mais graves, pode também vir a necessitar da ajuda de terceiros para ser alimentado ou na sua higiene pessoal.
Durante o período de internamento hospitalar, a vítima de AVC deverá beneficiar do acompanhamento de um terapeuta ocupacional e de fisioterapia. Estes terapeutas podem ajudar a pessoa a aprender a lidar com as suas novas limitações físicas e a restabelecer a força física.
É muito frequente os doentes serem transferidos do hospital para um centro de reabilitação, após a fase aguda, a fim de poder beneficiar de fisioterapia intensiva.
O objetivo da reabilitação passa por maximizar a recuperação do doente.
Para evitar AVCs no futuro, é muito importante controlar os níveis de pressão arterial, glicêmias e tomar a medicação que lhe for prescrita adequadamente.
Quando consultar o médico
Logo que notar a ocorrência de sintomas de um AVC, contacte os serviços de emergência médica (112) imediatamente, mesmo que estes só se manifestem durante poucos minutos. Para que o tratamento possa obter os melhores resultados, a assistência médica deve ser prestada no prazo máximo de 3 horas após o aparecimento dos sintomas.
Prognóstico
É frequente as pessoas começarem a recuperar de um AVC lacunar no prazo de horas ou dias.
Os AVCs lacunares apresentam uma taxa de recuperação mais favorável do que outros AVCs envolvendo vasos sanguíneos maiores. Mais de 90 por cento das vítimas de um AVC lacunar apresentam melhorias muito significativas no prazo de três meses após o acidente.
Neurologista - CRM-SP: 162853 - RQE Nº: 70569
O Dr. Nicolas de Oliveira Amui é graduado em medicina pela universidade federal de São Paulo (Unifesp/Epm) (2008-2013).
Além disso também possui:
- Residência médica em Neurologia pela universidade federal de São paulo (Unifesp/Epm) (2014-2017).
- Pós graduação em bloqueio neuromuscular e uso de toxina botulínica pelo Instituto de Medicina Física e Reabilitação (2018-2019) IMREA/Usp.
- Membro efetivo da Academia Brasileira de Neurologia.
- Médico militar na Força Aérea Brasileira.
- Membro do corpo clínico de hospitais de São Paulo (hospital israelita Albert einstein, hospital São Luiz, hospital São Camilo, hospital Leforte).
- Membro do corpo clínico do laboratório Senne liquor.
- Experiência em atendimentos de urgência e emergência clínicos e neurológicos; atendimento neurológico ambulatorial; coleta e análise de liquido cerebrospinal/liquor; infusão de quimioterapia intratecal.
Contato: (11)98654-3226
Consultar > Currículo Lattes.
Também pode encontrar o Dr. Nícolas de Oliveira Amui no Linkedin ou encontrar mais informações no Escavador.
- Sociedade Portuguesa de Neurologia
- Alto Comissariado da Saúde http://www.acs.min-saude.pt/
- Sociedade Portuguesa de Medicina Interna http://www.spmi.pt/
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