Ainda não totalmente desvendada, a endometriose é um dos transtornos ginecológicos mais comuns do mundo.
A partir do momento em que começa a menstruar, qualquer mulher pode desenvolver a endometriose. Porém, o problema é mais frequente entre as mulheres de 30 e 40 anos de idade.
Especialistas estimam que pelo menos cerca de 3% a 10% das mulheres em idade reprodutiva sofram da condição em todo o mundo.
Só nos Estados Unidos, isso equivale a 5 milhões de mulheres! (1) Como os estudos têm demonstrado que aproximadamente 11% das mulheres com endometriose não apresentam indícios do problema, o número real de mulheres atingidas tende a ser consideravelmente mais elevado.
O que é a endometriose?
O Congresso Americano de Obstetras e Ginecologistas (ACOG) define a endometriose como uma condição na qual o tecido que normalmente deveria formar o revestimento do útero (ou seja, o endométrio) começa a crescer em outros lugares da cavidade pélvica, como as trompas de Falópio, ovários, parte externa do útero ou nas superfícies externas da bexiga, ureteres, intestino e reto.
Esse tecido pode ainda crescer em uma via sem saída — o espaço entre o reto e o útero.
Em casos muito raros, o tecido cresce fora da cavidade pélvica — sobre os pulmões, cérebro, medula espinhal, joelho, nariz e também em outras partes do corpo! (2)
Fragmentos de endometriose são frequentemente tratados como lesões, implantes ou nódulos.
Os implantes podem variar de tamanho, cor e forma, mas nas fases iniciais são geralmente muito pequenos e têm a aparência de “espinhas” claras.
No entanto, conforme eles crescem podem se transformar em pequenos nódulos, áreas estáveis caracterizadas como lesões, ou cistos classificados de endometriomas.
Os cistos podem ser menores do que uma ervilha ou maiores do que uma laranja. Além disso, podem ser variadamente coloridos — vermelho, incolor ou marrom bem escuro.
Geralmente, os cistos se formam nos ovários e podem ficar abarrotados de um sangue velho, grosso e marrom-escuro. (3)
Causas da endometriose
Apesar de ser uma área altamente ativa da pesquisa médica, ninguém sabe ao certo (ainda) o que causa a endometriose! Várias teorias plausíveis têm sido apresentadas. Então, vamos dar uma olhada em algumas das mais aceitas.
Fatores hormonais
Evidentemente, o estrogênio é o hormônio que contribui para a doença.
Logo, uma exposição prolongada ao estrogênio pode acarretar a endometriose, como acontece nos casos envolvendo obesidade, ciclos menstruais curtos e menstruação em idade precoce.
Os receptores das células endometriais se ligam ao estrógeno e a outro importante hormônio: a progesterona.
Ambos os hormônios promovem o crescimento e o espessamento do útero.
Ao se anexarem a outras partes do corpo e a órgãos externos ao útero, as células endometriais continuam exercendo suas funções hormonais, o que resulta na ocorrência de cicatrizes e sangramento. (4)
Menstruação retrógrada
Segundo uma das teorias mais aceitas sobre a causa da endometriose, parte do tecido uterino se descama durante a menstruação e retorna à área pélvica ou cavidade abdominal através das trompas de Falópio, em vez de fluir para fora através da vagina.
Esse fenômeno é normalmente descrito como “menstruação retrógrada”.
No entanto, a menstruação retrógrada não explica totalmente a endometriose, pois quase todas as mulheres manifestam algum nível de menstruação retrógrada, enquanto apenas algumas desenvolvem a endometriose. (5)
Complicações no sistema imunológico
Distúrbios em todo o sistema imunológico podem contribuir para a endometriose.
O sistema imunológico pode ser incapaz de detectar e destruir o tecido endometrial como deveria, o que permitira o crescimento desses tecidos fora do útero.
Isso pode explicar por que as mulheres com endometriose também tendem a sofrer de doenças autoimunes, como a síndrome de Sjögren e a artrite reumatoide, e doenças inflamatórias intestinais, como a doença de Crohn e a colite ulcerativa. (6)
No entanto, essa ligação ainda não está clara e os pesquisadores ainda estão decidindo se a endometriose deve ser tratada como uma doença autoimune.
Por outro lado, a infertilidade, a dor e demais danos causados pela endometriose podem ser consequência de um sistema imunológico hiperativo.
O corpo pode considerar que os implantes endometriais são nocivos e, portanto, atacá-los.
O índice de macrófagos (grandes glóbulos brancos) em mulheres com endometriose sempre estão elevados.
Os macrófagos geram substâncias muito poderosas, como citocinas e prostaglandinas, que inflamam e lesionam células e tecidos.
Influência genética
Há uma chance muito grande de a endometriose ser herdada geneticamente, já que um histórico familiar positivo aumenta significativamente a probabilidade de desenvolvimento do transtorno. (7)
Há estudos que ainda estão investigando como exatamente a endometriose pode ser transmitida da mãe para as filhas.
Alguns pesquisadores também acreditam que a endometriose é uma anormalidade relacionada ao nascimento, momento em que as células endometriais se desenvolveriam fora do útero do feto feminino.
Posteriormente, quando essa menina começar a menstruar, essas células causariam lesões dolorosas. (8)
Cirurgias
Ocasionalmente, procedimentos cirúrgicos podem causar endometriose.
Se uma mulher acometida pela endometriose for operada na área pélvica ou abdominal (incluindo uma cesariana), por exemplo, ela poderia desenvolver implantes de endometriose nas regiões adjacentes da incisão cirúrgica.
Mais tarde, isso poderia desenvolver a endometriose na cicatriz cirúrgica.
Transformação celular
Os pesquisadores acreditam que, algumas vezes, as células inicialmente externas ao útero se transformam em células que revestem o útero.
Isso acontece quando a endometriose ocorre em locais inesperados, como o polegar ou o joelho. Contudo, a causa ainda está além compreensão da ciência médica.
Movimento celular
Outra razão atribuída à endometriose existente em outros órgãos do corpo, como os pulmões, é o deslocamento das células do revestimento uterino através do sistema linfático ou vasos sanguíneos em direção a essas regiões.
Causas inexplicáveis
A endometriose também costuma se desenvolver em mulheres após a histerectomia. Mas, até agora, nenhuma explicação satisfatória foi encontrada para esses casos.
Outra situação inexplicável é a rara ocorrência de endometriose em homens que não foram expostos ao estrógeno durante tratamentos médicos. (9)
Porque a lesão causada pela endometriose é tão dolorosa?
Os implantes de endometriose são altamente sensíveis a mudanças nos níveis de estrogênio.
Consequentemente, eles crescem, engrossam, rompem-se e sangram — assim como acontece no revestimento do útero durante os períodos de menstruação.
Quando os implantes/lesões de endometriose começam a sangrar, o sangue não tem para onde ir. Com isso, eles se tornam depósitos de sangue que formam placas, manchas e cistos.
Em tais situações, a área circundante pode facilmente ficar irritada e inflamada.
À medida que ocorre todos os meses, isso pode gerar tecido cicatricial, o qual pode ser extremamente doloroso, principalmente um pouco antes e durante o ciclo menstrual.
Às vezes, os implantes de endometriose podem até mesmo provocar a adesão entre os órgãos pélvicos. Essas aderências e entrelaçamentos podem causar cicatrizes, que por sua vez culminam em dor pélvica7abdominal.
Os nódulos de endometriose também podem pressionar células nervosas que estejam em estreita proximidade com a área pélvica, o que também é doloroso. (10)
A dor associada à endometriose pode ser debilitante, tendo em vista que pode interferir nas atividades cotidianas e diminuir a qualidade de vida.
Geralmente, essa dor é crônica, podendo durar 6 meses ou mais. Para algumas mulheres, a intensidade da dor diminui quando elas atingem a menopausa, pois nesta fase o corpo para de produzir estrogênio.
Sinais e sintomas
É importante reafirmar que muitas mulheres não exibem absolutamente nenhum sintoma. No entanto, dentre alguns dos mais comuns sintomas e sinais associados à doença estão:
- Menstruações espessas
- Menstruações irregulares
- Sangramento intermenstrual
- Cólicas menstruais debilitantes que não desaparecem com analgésicos comuns (que podem ser comercializados sem receita médica)
- Dificuldade em engravidar ou infertilidade
- Dor abdominal e/ou na região pélvica ou na parte inferior das costas — antes e durante a menstruação
- Dor pélvica constante (11)
Dores durante as relações sexuais, defecação ou micção também podem ser sintomas de endometriose.
Muitas mulheres diagnosticadas com o problema também sentem fadiga, exaustão, baixos níveis de energia, síndrome da bexiga dolorosa, dor nas costas ou problemas gastrointestinais, como constipação ou diarreia.
A depressão também é uma possível consequência da doença.
Para um grande número de mulheres, a dificuldade para engravidar e/ou infertilidade costuma ser o primeiro sinal.
Uma enorme parcela (33%) de todos os casos de infertilidade feminina pode ser atribuída à doença.
Embora a condição não impossibilite a gravidez, dificulta-a devido à localização dos implantes (de endometriose).
Caso as lesões de endometriose ocorram nas trompas de Falópio, isso compromete a passagem do óvulo; se elas acometem os ovários, bloqueiam a liberação do óvulo.
Doenças relacionadas à endometriose
As pesquisas sugerem que há uma profunda relação entre esta e as doenças a seguir listadas:
- Síndrome da fadiga crônica
- Fibromialgia
- Doenças autoimunes, como lúpus, artrite reumatoide e esclerose múltipla — quando o organismo é atacado pelo próprio sistema imunológico.
- Asma
- Alergias
- Câncer de mama e do ovário
Fatores de risco
Como já mencionado antes, qualquer mulher que menstrue pode desenvolver a doença. Contudo, elas estarão mais propensas se:
- A mãe ou irmã tiverem endometriose. Um histórico familiar positivo para a doença amplia em seis vezes a tendência do desenvolvimento do transtorno
- Começarem a menstruar antes dos 11 anos de idade
- O ciclo menstrual for inferior a 27 dias
- A menstruação for especificamente espessa e durar mais de uma semana.
Fatores protetores
Assim como há fatores que aumentam as chances de se ter a doença, outras variáveis podem diminuir essa probabilidade. Os fatores protetores de endometriose incluem:
- Ter um baixo porcentual de gordura corporal
- Exercícios superiores a mais de 4 horas por semana
- Gravidez
- Início da menstruação em uma fase mais tardia da adolescência. Obviamente, este fator é incontrolável.
Além disso, consumir muitas frutas, verduras e alimentos ricos em ômega-3 (um ácido graxo) também pode proteger a mulher contra a condição. (12)
Desfazendo um mito importante sobre a doença
Atualmente, a endometriose é uma área de pesquisa bem ativa na comunidade médica. Com isso, as investigações em curso estão ajudando os pesquisadores entender melhor essa condição médica.
As evidências científicas mais recentes têm refutado algumas crenças antigas sobre a condição.
Antigamente, os especialistas acreditavam que a intensidade da dor dependia do tamanho e da localização dos implantes/lesões.
Mas estudos recentes retificaram essa teoria e, hoje, já se sabe que o tamanho ou a localização dos implantes/nódulos não têm qualquer relação com a severidade da dor.
Na verdade, algumas mulheres com pequenas lesões sentem uma dor profunda, enquanto outras, com grandes lesões, sentem uma dor menos acentuada.
Eu posso evitar a endometriose?
Na verdade, não. Não há nenhuma maneira infalível de evitar a doença, mas você pode tentar reduzir suas chances de desenvolvê-la ao diminuir a quantidade de estrogênio no corpo.
Afinal, trata-se do hormônio responsável pelo espessamento mensal do revestimento uterino. Algumas maneiras de reduzir os níveis de estrogênio são:
- Métodos hormonais para controle de natalidade. Discuta sobre as pílulas anticoncepcionais que tenham níveis inferiores de estrogênio com seu obstetra ou ginecologista
- Evite o excesso de álcool. Limite a ingestão a cerca de 1 copo por dia
- Evite a cafeína em excesso. O excesso de café, refrigerantes ou mesmo chá verde pode aumentar seus níveis de estrogênio. Limite-se a tomar uma bebida com cafeína por dia.
Exercite-se regularmente. Praticar exercícios por pelo menos 4 horas semanais regulará seus níveis de estrogênio.
Enfermeiro - Coren nº 491692
O Reinaldo Rodrigues formou-se em agosto de 2016, pela Universidade Padre Anchieta, em Jundiai. Fez curso de especialização em APH (Atendimento Pré-Hospitalar), pela escola 22Brasil Treinamentos, em Barueri, curso de 200 horas práticas, com foco em acidentes de trânsito.
Trabalha como Cuidador de Idosos há 5 anos, e possui experiência em aspiração de vias aéreas, banho de aspersão, curativos, tratamento e prevenção de Lesão por Pressão, gerenciamento de Equipe de cuidadores com elaboração de escalas. Treinamento e acompanhamento de cuidadores nas casas dos pacientes.
Também pode encontrar o Reinaldo no Linkedin.
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