Uma das características da coceira na pele é ela poder ocorrer em todo o corpo. Pode ser resultado de uma erupção cutânea ou outra condição da pele. Também pode ser um sintoma de uma condição mais grave, como doença hepática ou insuficiência renal. Para se obter alívio, é importante identificar o problema e tratar a causa que está na sua origem.
De acordo com a dermatologista Joana Barbosa a coceira no corpo é um sintoma comum, com o qual muitas pessoas estão familiarizadas. Por definição, a coceira é uma irritação que provoca o desejo de esfregar ou arranhar a pele. Também é chamada de comichão ou prurido. Tal como descrito anteriormente, ela pode ser causada por diversos motivos: picadas de insetos (dengue, Zika), alergias, doenças dermatológicas (dermatite, micose, psoríase), autoimunes, infecciosas, metabólicas (diabetes), sistêmicas, além de fatores psicológicos, como a ansiedade.
Quando a coceira não passa, é importante perceber o que a está provocando, pois o ato frequente de coçar pode levar a lesões mais sérias na pele, uma vez que esta fica mais exposta a microrganismos infecciosos, alerta a dermatologista Ana Carolina Sumam.
Além disso, existem doenças mais graves que devem ser rapidamente tratadas – cujos sintomas incluem a coceira, tais como infecções, doenças do fígado e rins. Para evitar lesões pelo excesso de arranhões é indicado fazer uso de um antialérgico ou pomada hidratante ou anti-inflamatória que devem ser prescritos pelo dermatologista ou clínico geral — afirma Egon Daxbacher, presidente da Sociedade Brasileira de Dermatologia Regional Rio de Janeiro.
Principais causas de acordo com a sua localização
O local do corpo em que a coceira ocorre, pode ajudar a identificar a sua origem:
- Cabeça: geralmente é causada pele presença de caspa;
- Olhos: quando ocorre nos olhos muitas vezes trata-se de conjuntivite ou blefarite;
- Lóbulo a orelha: por vezes é uma simples alergia ao brinco de bijuteria ou prata;
- Abaixo da nuca: por vezes é uma alergia provocada pela etiqueta da peça de vestuário;
- Axilas: pode ocorrer devido a uma alergia ao desodorante;
- Virilha: por vezes trata-se de uma micose (tinea cruris);
- Genitais: a presença de coceira nos órgãos genitais pode ser indicativo de infecções, doenças sexualmente transmissíveis ou alergias;
- Corpo todo: grande parte dos casos são provocados por eventos como a urticária ou dermatite atópica;
- No interior do ouvido ou atrás da orelha: pode tratar-se de uma dermatite seborreica;
- Nariz: o prurido nasal normalmente está associado a condições como a rinite;
- Pescoço e pálpebra superior: pode ocorrer devido uma alergia ao esmalte da unha;
- Lateral do abdômen: geralmente é apenas pele seca;
- Mãos: pode ocorrer após o contato com algum detergente ou sabão;
- Pés: geralmente desencadeada pela presença de fungos que dão origem à tinea dos pés, frieira ou pé-de-atleta.
Veja a seguir oito possíveis causas de coceira na pele e como proceder quando identificar cada uma delas:
1. Reações alérgicas
Reações alérgicas na pele são irritações que podem ocorrer em diversas situações, tais como:
- exposição da pele a clima muito quente causando sudorese excessiva;
- contato com certos tipos de tecidos;
- pelos de animais;
- uso de cosméticos (sabonetes, xampus, cremes, perfumes, esmaltes, maquiagem);
- medicamentos de uso tópico;
- presença de ácaros;
- poeira;
- contato com químicos mais ácidos ou alcalinos, como produtos de limpeza.
Além da alergia por contato, também pode ocorrer reação alérgica com prurido pela ingestão de alimentos, bebidas ou medicamentos. Alguns medicamentos injetáveis e vacinas também estão sujeitos a causar alergias.
A alergia é um evento individual. O alérgeno pode provocar uma reação leve ou grave, dependendo da pessoa, bem como podem haver pessoas que não apresentam reações à mesma substância. É importante consultar um alergista para realizar exames de sangue e testes de contato, para então se perceber o que deve ser evitado.
Tratamento: após ter sido encontrada a causa da alergia, o indivíduo deve-se afastar do alérgeno, trocando os produtos que vem utilizando ou consumindo por versões que não contêm a substância problemática. Para aliviar os sintomas, o médico pode recomendar o uso de medicamentos antialérgicos ou pomadas com corticoides.
2. Ressecamento da pele
Clima seco, excessivamente quente ou frio com baixa umidade, banhos muito longos e quentes, uso excessivo de sabonetes e detergentes, depilação, ou mesmo a predisposição para ter pele seca, causam ressecamento da pele (também chamado de xerose cutânea ou xerodermia). O ressecamento significa que a pele perdeu uma camada de proteção, ficando mais sensível a agentes externos que provocam coceira.
O ressecamento da pele pode também ser um efeito colateral de alguns medicamentos, um sintoma de nutrição inadequada ou alguma doença como o hipotireoidismo.
O que fazer: utilizar boas loções hidratantes, de preferência com orientação do dermatologista. Tais loções poderão ser elaboradas por farmácias de manipulação, incluindo substâncias como vitamina E, ceramidas e ureia, e formuladas com substâncias hipoalergênicas. Quando a coceira é muito intensa e incômoda, pode ser recomendado um antialérgico para reduzir os sintomas.
3. Dermatites
Algumas pessoas têm alergia e coceiras constantes, podendo ser consideradas alérgicas crônicas. Essa alergia geralmente é resultado das chamadas dermatites – doenças que costumam ter origem autoimune ou genética. Além da coceira, podem ocorrer outras alterações dermatológicas. Alguns exemplos de dermatite são:
Dermatite herpetiforme: também chamada de dermatite de Duhring-Brocq, é geralmente associada à doença celíaca (uma doença autoimune), sendo necessário retirar o glúten da dieta para reduzir os sintomas. Nela aparecem pequenas lesões bolhosas parecidas com as causadas pela herpes.
Psoríase: também uma doença autoimune, é caracterizada pela demasiada proliferação de células na camada mais superficial da pele, principalmente em zonas como cotovelos e joelhos, tornando a grossa e com descamação. Para tratar a psoríase é necessário evitar os fatores desencadeantes, como estresse e o uso de alguns medicamentos. Em alguns casos podem ser indicados o uso de pomadas e fototerapia, pois a exposição solar moderada tem um efeito benéfico nas lesões da psoríase.
Dermatite seborreica: também conhecida como caspa, aparece especialmente no couro cabeludo. Além da coceira, também ocorre descamação. Para tratar, o dermatologista deve indicar o uso de um xampu específico para o problema.
Dermatite de contato: é a reação inflamatória que ocorre quando a pele entra em contato com um material irritante, como por exemplo: bijuterias, relógios, luvas de látex e outros acessórios. Neste caso é importante o alergista, alergologista, ou o próprio indivíduo identificar o material desencadeador da reação e evitá-lo.
Dermatite atópica: também chamada de eczema atópico, é uma doença crônica que causa coceira, inchaço e vermelhidão na pele, sendo mais comum ocorrem em regiões de dobras, como parte de trás dos joelhos, ou dobras dos braços. De acordo com o Colégio Americano de Alergia, Asma e Imunologia (ACAAI) a dermatite atópica afeta cerca de 1 em cada 5 crianças, mas apenas 1 em cada 50 adultos. Para tratar a dermatite atópica podem ser indicados anti-histamínicos orais e pomadas com substâncias que protegem a pele e aliviam os sintomas.
Existem outros tipos de dermatite, portanto, caso a coceira não passe, é importante consultar um dermatologista a fim de realizar exames para identificar se a causa é uma dermatite, qual o seu tipo e então, tratá-la.
4. Infecções da pele
Micro-organismos como bactérias e fungos podem provocar infecções cutâneas com coceira. Alguns exemplos são:
Herpes: causada por um vírus, tem como sintomas, feridas doloridas e com bolhas, que geralmente aparecem na região dos lábios ou genitais.
Sarna: também chamada de Escabiose (do latim Scabere – coçar), é causada pela fêmea do ácaro Sarcoptes scabiei que deposita os ovos na pele. Apresenta coceira intensa com bolhas e erupções. A sarna pode provocar coceira no corpo que piora durante a noite.
Micose: doença cutânea causada por fungos, é comum e contagiosa, principalmente em ambientes quentes e úmidos. O tipo mais comum é a onicomicose (micose de unha).
Candidíase da pele: ocorre quando fungos do gênero Candida infectam regiões do corpo mais sujeitas a estarem úmidas, como as dobras da pele, embaixo dos seios, virilhas, axilas, entre os dedos dos pés e, no caso dos bebês pode aparecer na região em contato com a fralda.
Impetigo: infecção bacteriana que pode ocorrer em qualquer idade, mas é mais comum em crianças. É altamente contagiosa, sendo transmitida pelo contato de roupas, lençóis e toalhas em ambientes como o da escola. Aparecem pústulas, que coçam, se rompem facilmente e liberam pus.
Como tratar: No caso de doenças infecciosas, o acompanhamento médico é fundamental para evitar a evolução da doença e se obter o tratamento mais adequado, que pode envolver o uso de antialérgicos, anti-inflamatórios, antibióticos ou antifúngicos, dependendo do caso, que podem ser orais ou em creme.
5. Doenças sistêmicas
As doenças que afetam os sistemas circulatório e endócrino, o fígado, a imunidade e o sangue, também têm a coceira na pele entre os seus sintomas. A catapora por exemplo, bem conhecida pelas lesões bolhosas que aparecem em todo o corpo, é resultado de uma infecção viral que afeta a circulação, bem como o Dengue e a Zika.
A coceira, que pode ocorrer em diferentes intensidades, pode também ser um indício de problemas sistêmicos moderados ou graves: neuropatias, disfunções endócrinas, neuropatias, hepatites, doenças hematológicas e até o câncer.
Quando isso ocorre, além do tratamento para a doença principal, o médico pode recomendar a utilização de um remédio anti-alérgico para aliviar a coceira. O Hidroxizine é um exemplo.
6. Doenças psicológicas
O prurido de origem psicológica pode aparecer principalmente em pessoas com transtornos de ansiedade generalizada, distúrbio obsessivo-compulsivo, transtornos alimentares, depressão, bipolaridade e outros. O ato de coçar de uma pessoa com alguma desordem psicológica pode ser de tal forma agressivo, que resulta em lesões profundas e mal cicatrizadas, devendo por isso ser controlado.
Como tratar: uma vez que não foi identificada nenhuma outra causa para a coceira: como alergia, doença dermatológica ou sistêmica, o paciente será orientado a consultar o psiquiatra ou psicólogo e se necessário, fazer uso de ansiolíticos ou antidepressivos.
7. Urticária
A urticária é um tipo de inflamação causada na pele pela liberação de uma substância química no corpo chamada histamina. A liberação de histamina faz com que os pequenos vasos sanguíneos vazem e levem ao inchaço da pele.
A urticária pode ser aguda (ocorre geralmente após o indivíduo entrar em contato com a substância alérgica – alimento ou medicação por exemplo, mas também pode ser provocada por causas não alérgicas – clima excessivamente quente ou frio, exposição ao sol ou após o exercício físico). A urticária crônica geralmente não tem um gatilho específico, o que torna o teste de alergia inútil. Pode durar meses ou até anos e causar coceira desconfortável e dolorosa, mas não é contagiosa.
Como tratar: O tratamento da urticária aguda geralmente inclui anti-histamínicos que serão administrados durante várias semanas. A cetirizina e a fexofenadina são dois exemplos de anti-histamínicos que ajudam a bloquear os efeitos das histaminas e consequentemente a reduzir a erupção cutânea e interromper a coceira. O tratamento da urticária crônica normalmente é feito com antibióticos (Dapsona, por exemplo). Em casos de urticária idiopática crônica pode ser prescrito o Omalizumab (ou Xolair) para reduzir os sintomas que se não tratados podem durar meses ou anos.
8. Picadas de insetos
A picada de um mosquito normalmente causa uma pequena coceira que geralmente desaparece após algumas horas. No entanto, quando os insetos vivem na própria pele do indivíduo e se alimentam dele todas as noites, a coceira pode tornar-se duradoura e incontrolável. Alguns desses insetos incluem: percevejos, piolhos e ácaros (sarna). As mordidas de percevejos e ácaros podem produzir uma erupção que pode causar coceira em todo o corpo.
O que fazer: Se houver suspeita de uma infestação de percevejos, é necessário remover toda a mobília e limpar o local com repelentes apropriados. Todos os itens afetados devem ser lavados a 60 ºC. Por vezes é necessária ajuda profissional para eliminar completamente a infestação.
Percevejos: Lavar as mordidas com sabão e água ajuda a evitar infecções da pele e a reduzir a coceira.
Piolhos: Existem vários produtos disponíveis na farmácia para eliminar os piolhos e suas lêndeas. A maioria deles estão disponíveis sem receita médica. Quando o tratamento caseiro não funciona é importante consultar o dermatologista para serem recomendados outros produtos ou medicamentos, que podem incluir: Loções de álcool benzílico, Ivermectina, Malathion e Suspensão de Spinosad.
Sarna: A maioria dos medicamentos para a escabiose devem ser aplicados na hora de dormir e lavados após acordar. Os medicamentos normalmente prescritos incluem:
- Creme de permetrina a 5%
- Creme de crotamiton a 10%
- Loção de benzoato de benzila a 25%
- Pomada de enxofre (5% -10%)
- Loção de lindano a 1%
Coceira na gravidez, o que pode ser?
A gestação promove muitas mudanças no ambiente hormonal da mulher, causando muitas alterações – inclusive na pele, podendo causar ressecamento e consequentemente, coceira.
Colestase: Outra condição suscetível de ocorrer na gravidez e que causa coceira no corpo, é a colestase. Esta condição afeta o fluxo da bile e um dos seus sintomas é o prurido gestacional: surgem bolinhas nas palmas da mão e sola do pé, que coçam e podem se espalhar pelo corpo todo.
Penfigoide gestacional: A penfigoide gestacional (também conhecida como herpes gestacional por possuir lesões semelhantes às de herpes, apesar de não haver relação com o vírus) é uma doença autoimune que pode aparecer durante as últimas semanas da gravidez ou logo após o parto. Os principais sintomas incluem: pápulas, vermelhidão e bolhas, principalmente na região abdominal.
Dermatite papular gestacional: Alguns desequilíbrios nos níveis de hormônios (gonadotrofinas, progesterona e estrógeno) podem levar ao aparecimento da dermatite papular gestacional, que pode ocorrer em qualquer estágio da gravidez.
Por ocorrer numa fase que requer cuidados especiais a fim de proteger o bebê, a gestante deve procurar orientação médica (obstétrica ou dermatológica) para perceber a causa e como aliviar a coceira. Nesta fase é igualmente importante a mulher evitar contato com produtos de limpeza, cosméticos dos quais não fazia uso (e não sabe se ocorrerá uma reação) e alimentos passíveis de causar alergias.
Dermatologista - CRM: 46.608 / RQE: 32.368
O Dr. Daniel Seixas Dourado é Graduado em Medicina pela Universidade Severino Sombra – RJ – 2007. Para além disso possui:
- Especialização em Dermatologia: Hospital Eduardo de Meneses (FHEMIG) – 2009.
- Pós-Graduação Lato-Sensu em Medicina e Cirurgia Aplicada a Estética: CEMEPE – Belo Horizonte – 2010.
- Título de especialista em Dermatologia: Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) e pela associação médica brasileira – AMB.
- Especialização em cirurgia da restauração capilar: Facultè de médecine Pierre et Marie de Curie de Paris / France – 2014.
- É membro titular da sociedade brasileira de dermatologia – SBD.
- Membro titular da sociedade brasileira de cirurgia Dermatológica (SBCD).
- Membro da associação brasileira de cirurgia e restauração capilar- ABCRC.
Endereço: Rua Bernardo Guimarães, 2717, sala 903 - Santo Agostinho, Belo Horizonte – MG
Email: atendimento@drdanieldourado.com.br
Telefone: (31) 9 9446 2446
Também pode encontrar o Dr. Daniel no Linkedin, Facebook e Instagram. Pode consultar o Currículo Lattes Aqui.
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