Colecistite aguda: Sintomas, causas e tratamentos

A colecistite aguda, referida na literatura médica como um inchaço (inflamação) da vesícula biliar, é uma condição potencialmente séria que ocorre quando os cálculos biliares migram da vesícula biliar para um dos ductos biliares, causando um bloqueio e impedindo a liberação da bílis pela vesícula biliar. Geralmente precisa ser tratada em ambiente hospitalar.

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A principal manifestação é uma dor súbita e aguda no lado superior direito da barriga (abdômen) que se dissemina em direção ao ombro direito. A região afetada do abdômen geralmente fica extremamente sensível e respirar profundamente pode agravar a dor.

Ao contrário de outros tipos de dor abdominal, o desconforto associado à colecistite aguda geralmente persiste e não desaparece em poucas horas. A dor é semelhante à cólica biliar (dor causada por cálculos biliares), mas é mais forte e dura mais tempo, atingindo o seu pico após 15 a 60 minutos, permanecendo constante.

Algumas pessoas podem apresentar sintomas adicionais, como:

  • temperatura elevada (febre);
  • náusea e vômito;
  • transpiração anormal;
  • perda de apetite;
  • amarelecimento da pele e do branco dos olhos (icterícia);
  • presença de uma protuberância ou volume no abdômen;
  • dor aguda no lado superior direito do abdômen;
  • dor que irradia para o ombro direito;
  • dor ao respirar profundamente;
  • dor abdominal persistente.

Colecistite Aguda, Sintomas, Causas E Tratamentos

Quando procurar aconselhamento médico

É importante consultar o médico o mais rápido possível caso ocorra dor abdominal súbita e grave, especialmente se o desconforto permanecer mais do que algumas horas ou for acompanhada por outros sintomas, como icterícia e febre. É importante que o processo inflamatório seja diagnosticado de forma rápida, já que existe o risco de ocorrerem complicações sérias caso a condição não receba tratamento imediato (veja abaixo).

O que causa colecistite aguda?

As causas da colecistite aguda podem ser divididas em duas categorias: colecistite calculosa e colecistite acalculosa.

Colecistite calculosa

A colecistite calculosa é o tipo mais comum e menos grave. É responsável por cerca de 95% dos casos.

A colecistite calculosa ocorre quando a abertura principal da vesícula biliar, chamada de ducto cístico, fica bloqueada por um cálculo biliar ou por uma substância conhecida como lama biliar – uma mistura de bile (um líquido produzido pelo fígado que ajuda a digerir as gorduras) e pequenos cristais de colesterol e sal.

O bloqueio no ducto cístico resulta no acúmulo de bile na vesícula biliar, aumentando a pressão no seu interior e levando á inflamação. Em cerca de 1 em cada 5 casos, a inflamação da vesícula biliar também é infectada por bactérias.

Colecistite acalculosa

A colecistite acalculosa é um tipo de colecistite aguda menos comum, mas geralmente mais grave. Normalmente ocorre como uma complicação de uma doença grave, infecção ou lesão que danifica a vesícula biliar. Está muitas vezes associada a danos acidentais na vesícula durante grandes cirurgias, ferimentos graves ou queimaduras, envenenamento do sangue (sepse), desnutrição severa ou AIDS.

O tratamento definitivo da colecistite acalculosa é feito através de colecistectomia (em pacientes capazes de tolerar a cirurgia). Em pacientes selecionados, tratamento não cirúrgico (como antibióticos ou colecistostomia percutânea) pode ser uma alternativa eficaz à cirurgia.

Quem pode ser afetado

A colecistite aguda é uma complicação relativamente comum dos cálculos biliares. Geralmente não causa sintomas, mas em um pequeno número de pessoas pode originar episódios de dor (conhecidos como cólica biliar) ou colecistite aguda.

Diagnóstico

Antes de confirmar o diagnóstico, o especialista precisa descartar outras condições, como a colangite, hepatite, pancreatite, infecções do trato urinário, gastroenterite, colelitíase, cálculos renais, diverticulite, doença inflamatória intestinal, entre outras.

Para diagnosticar a colecistite aguda, o médico examina o abdômen. Geralmente é realizado um teste simples chamado “Sinal de Murphy”, em que o paciente é solicitado a respirar profundamente com a mão do médico pressionando a barriga, logo abaixo da caixa torácica.

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Durante a manobra, a vesícula biliar se moverá para baixo á medida que o paciente respira e, na presença de colecistite, o paciente sentirá dor súbita quando a vesícula biliar chegar à mão do especialista.

Quando os sintomas sugerem colecistite aguda, o médico geralmente encaminha o paciente imediatamente para o hospital, onde serão realizados exames e tratamento adicionais, que podem incluir:

  • exames de sangue para verificar sinais de inflamação no corpo;
  • ultrassonografia abdominal para verificar se existem cálculos biliares ou outros sinais de problema na vesícula biliar;
  • Raio X, tomografia computadorizada ou ressonância magnética – podem ser necessários para examinar a vesícula biliar com mais detalhe, quando há incerteza sobre o diagnóstico.

Tratamento

O tratamento inicial muitas vezes envolve:

  • jejum (não comer ou beber) para reduzir a tensão da vesícula biliar;
  • receber fluidos (por via intravenosa) para evitar a desidratação;
  • tomar medicação para aliviar a dor.

Caso exista suspeita de infecção, o paciente também receberá antibióticos, que muitas vezes precisam ser mantidos até uma semana, durante a qual pode ser necessário pernanecer no hospital.

Com este tratamento inicial, quaisquer cálculos biliares que possam ter causado a doença geralmente voltam para a vesícula biliar e a inflamação muitas vezes acalma.

Cirurgia

Para evitar recorrências e reduzir o risco de complicações sérias, muitas vezes é recomendada a remoção da vesícula biliar (colecistectomia) em algum momento após o tratamento inicial.

Embora menos comum, também pode ser realizado um procedimento alternativo chamado de colecistostomia percutânea (opção terapêutica não-cirúrgica) caso o paciente esteja muito doente para realizar uma cirurgia. O procedimento passa por inserir uma agulha através do abdômen para drenar o fluido acumulado na vesícula biliar.

O médico precisa avaliar o melhor momento para remover a vesícula biliar. Em alguns casos é necessária uma cirurgia imediata ou no dia seguinte, enquanto em outros o paciente pode ser aconselhado a esperar que a inflamação seja totalmente resolvida.

A cirurgia pode ser realizada de duas formas (principais):

  • Colecistectomia laparoscópica – procedimento cirúrgico que remove a vesícula biliar com a ajuda de instrumentos cirúrgicos especiais inseridos através de pequenos cortes (incisões) no abdómen.
  • Colecistectomia aberta – neste procedimento a vesícula biliar é removida através de uma única incisão maior realizada no abdómen.

Embora alguns pacientes que passam pela remoção da vesícula biliar relatem sintomas de inchaço e diarreia após a ingestão de alguns alimentos, na maioria dos casos é possível levar uma vida perfeitamente normal.

Apesar de ser útil, o órgão não é essencial, pois o fígado ainda produzirá bile para digerir os alimentos.

É uma ameaça à vida?

Sem tratamento adequado, a inflamação pode levar a complicações muitas vezes fatais, que podem incluir:

  • a morte dos tecidos da vesícula biliar, chamada colecistite gangrenosa, que pode originar uma infecção grave que se pode disseminar por todo o corpo (ocorre em até 30% dos casos);
  • a perfuração espontânea da vesícula biliar é uma complicação menos comum, mas mais grave, que ocorre em cerca de 1 em cada 100 casos. O evento pode abrir caminho a infecções no interior do abdómen (peritonite) ou levar ao acúmulo de pus (abscesso).

Em cerca de 1 em cada 5 casos de colecistite aguda é necessária cirurgia de emergência para remover a vesícula biliar e evitar complicações.

Prevenção

Nem sempre é possível prevenir a doença, mas é possível evitá-la reduzindo o risco de cálculos biliares.

Uma das principais atitudes a tomar é adotar uma dieta saudável e balanceada e limitar o número de alimentos ricos em colesterol ingeridos – pois acredita-se que o colesterol contribua para a formação de cálculos biliares.

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Estar acima do peso, especialmente ser obeso, também aumenta o risco de desenvolver cálculos biliares. É importante controlar o peso através de boas escolhas alimentares e praticando atividade física de forma regular.

Importante: As dietas agressivas, baixas em calorias, e que promovam uma perda de peso rápida, devem ser evitadas, pois as evidências mostram que elas podem perturbar a química biliar e, na verdade, aumentar o risco de desenvolver cálculos biliares.

Dê preferência a um plano alimentar para uma perda de peso gradual. Consulte um expecialista em nutrição.

Perguntas frequentes

Você pode morrer de colecistite?

Tal como indicado anteriormente, a colecistite não tratada pode causar a morte dos tecido na vesícula biliar (gangrena), a complicação mais comum, especialmente entre os idosos, pacientes que esperam para receber tratamento e indivíduos com diabetes. A complicação pode levar à ruptura da vesícula biliar, ou originar a sua ruptura.

Quanto dempo dura a dor?

Um ataque típico pode durar dois a três dias, mas os sintomas podem variar muito de pessoa para pessoa. A dor aparece na parte superior direita ou média do estômago e geralmente dura 30 minutos.

O que é o sinal positivo de Murphy?

O sinal positivo de Murphy é um “sintoma” que pode ser identificado durante a “Manobra de Murphy” em pacientes com colecistite aguda. Para realizar o teste, o expecialista deve palpar a área da vesícula biliar medialmente à linha hemiclavicular, enquanto o paciente permanece deitado em decúbito dorsal. De seguida o paciente inspira profundamente – o que expande os pulmões e empurra a vesícula biliar contra as pontas dos dedos do examinador.

Quais alimentos devo evitar após a remoção da vesícula biliar?

Enquanto o corpo recupera da cirurgia é importante evitar alimentos com alto teor de gordura durante algumas semanas. Alguns alimentos ricos em gordura incluem:

  • Alimentos fritos, como batatas fritas;
  • Carnes com alto teor de gordura, como bacon, mortadela, salsicha, carne moída e costelas;
  • Produtos lácteos com alto teor de gordura, como manteiga, queijo, sorvete, leite integral e creme azedo;
  • pizza;
  • Alimentos feitos com banha ou manteiga; Sopas ou molhos cremosos;
  • Molhos de carne;
  • Chocolate;
  • Óleos, especialmente óleo de palma e coco;
  • Pele de frango ou peru.

Alguns alimentos ricos em fibras e produtores de gases também podem causar desconforto após o procedimento. Deve introduzi-los lentamente na sua dieta. Alguns desses alimentos incluem:

  • Pães integrais e cereais;
  • Nozes;
  • Sementes;
  • Legumes;
  • Couve de Bruxelas;
  • Brócolis;
  • Couve-flor
  • Repolho.

Um cálculo de 5 mm é grande?

Os cálculos biliares variam muito em tamanho. Algumas pessoas formam grandes pedras, enquanto outras podem desenvolver centenas de pequenas pedras. Os cálculos biliares podem medir entre 5 a 10 mm de diâmetro.

Nota: Este conteúdo, desenvolvido com a colaboração de profissionais médicos licenciados e colaboradores externos, é de natureza geral e apenas para fins informativos e não constitui aconselhamento médico. Este Conteúdo não pretende substituir o aconselhamento médico profissional, diagnóstico ou tratamento. Consulte sempre o seu médico ou outro profissional de saúde qualificado sobre a sua condição, procedimento ou tratamento, seja um medicamento prescrito, de venda livre, vitamina, suplemento ou alternativa à base de ervas.
Autores
Dr. Antonio Hirt (Gastroenterologista / Cirurgião Ap. Digestivo - CRM/PR: 11031)

Dr. Antonio Hirt - CRM/PR: 11031

Cirurgia do aparelho digestivo - RQE Nº: 11137

Consultar > Currículo Lattes.

Cirurgia Videolaparoscópica - RQE Nº: 779

Gastroenterologia - RQE Nº: 21161

Formado pela Faculdade Evangélica de Medicina do Paraná (FEMPAR) em 1987. Mestre em princípios de cirurgia pelo Instituto de Pesquisas Médicas e Doutorando em Marcadores Tumorais em câncer gástrico pela mesma instituição.

Especialista em Cirurgia do Aparelho Digestivo e em Gastroenterologia e Endoscopia Digestiva.

Membro do “Colégio Brasileiro de Cirurgia Digestiva” e da “Federação Brasileira de Gastroenterologista”.

Membro da comissão científica da FBG-Pr.

Contatos: Consultório na Rua Amintas de Barros, 519 conj. 103 - Tel. (41) 3264-2003 ou (41) 99244-3202 (whats) centro - Curitiba - Pr.

Também pode encontrar o Dr. Antonio no Linkedin ou no Google.


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    Última atualização da página em 08/09/24