O que significa derrame pleural (água no pulmão)? O nome deriva do excesso de líquido no interior da pleura, que é uma fina camada que recobre os pulmões.
Como a aglutinação líquida acaba exercendo uma pressão sobre os respectivos órgãos, o indivíduo afetado passa a manifestar dificuldade para respirar, além de dores no peito.
Como é possível perceber, o derrame pleural não chega a ser uma doença propriamente dita. Na verdade, trata-se de um sintoma ligado a várias patologias.
Além de envolver os pulmões, a pleura também cumpre a função de favorecer os movimentos desses órgãos. Essa membrana se divide em duas partes:
- Pleura visceral — estrato interno que fica em contato direto com o pulmão;
- Pleura parietal — estrato externo que se conecta a outros elementos estruturais que também revestem o órgão em questão.
Entre essas duas pleuras está a chamada cavidade pleural. Trata-se de uma pequena área de aproximadamente 0,02 mm, a qual abriga um líquido seroso. Com ação lubrificante, esse líquido é essencial para que as pleuras se desloquem. Desse modo, ele evita que haja um choque no momento do esvaziamento ou preenchimento dos pulmões.
Antes de chegar à região da cavidade pleural, esse líquido é transportado por pequenos vasos sanguíneos, estrategicamente posicionados na pleura parietal. Após passar pela cavidade pleural, o líquido seroso não se acumula no organismo, uma vez que ele se incorpora à linfa do sistema linfático.
Para se ter uma ideia, um indivíduo saudável costuma conter cerca de 15 mm de líquido seroso frequentemente passando pela pleura.
O derrame pleural é caracterizado justamente pelo excesso de líquido seroso. O problema decorre de uma produção descontrolada do líquido, e pode estar ligado a uma falha no processo de reabsorção executado pela linfa. Com o acúmulo de líquido seroso na cavidade pleural, o armazenamento de ar dos pulmões fica severamente comprometido.
Uma vez que o derrame pleural é uma consequência atrelada a mais de uma patologia, o problema precisa ser analisado cuidadosamente a fim de se descobrir a sua origem exata.
Tipos e causas do derrame pleural
Existem várias maneiras de classificar o problema. Um dos critérios utilizados é a constituição dos compostos químicos presentes no líquido. Esse detalhe é relevante, pois o líquido seroso pode ser uma mera secreção ou até mesmo uma mistura da própria corrente sanguínea com outros fluidos.
Derrame transudativo
Diante do que foi apresentado anteriormente, o líquido seroso pode ser transudativo. Nesses casos, o fluido apresenta uma tonalidade translúcida — parecida com aquela típica do líquido pleural comum. Com uma baixa concentração protéica e celular, o líquido causador do derrame transudativo comprime os vasos sanguíneos.
A origem mais frequente do problema está vinculada a uma deficiência cardíaca, a qual é acompanhada de hipoalbuminemia e cirrose.
Derrame exsudativo
Já no derrame exsudativo, o líquido seroso exibe uma textura mais viscosa. Diferentemente do derrame anterior, o exsudativo apresenta uma tonalidade opaca. Além disso, o líquido possui uma alta carga protéica, além de conter células causadoras de processos inflamatórios.
Em alguns casos, há ainda o risco de haver alguma concentração de sangue e pus.
O líquido seroso que provoca esse derrame provém de vulnerabilidades associadas à capacidade de filtragem da pleura, que se torna mais permeável do que deveria.
Nesse quadro, uma quantidade descontrolada de células, proteínas e outros elementos tende a alcançar à cavidade pleural, formando o fluido problemático.
Entre as variadas probabilidades de origem do derrame exsudativo estão:
- Embolia pulmonar;
- Pneumonia;
- Tuberculose;
- Artrite reumatoide;
- Lúpus;
- Viroses;
- Câncer — quando a metástase atinge a pleura.
Classificação quanto ao caráter
Outra forma de se classificar as vertentes de derrame pleural se dá por meio dos elementos que atingem a cavidade.
Quilotórax
Trata-se da aglutinação de linfa na cavidade. Por conter uma elevada concentração de gordura, o aspecto dessa linfa é semelhante ao do leite. Normalmente, esse acúmulo surge de:
- Neoplasias;
- Trombose na veia cava superior;
- Falhas congênitas;
- Choques sobre a região do tórax.
Quiliforme
Nesse caso, há uma grande similaridade com o quilotórax. A diferença reside na baixa concentração de triglicerídeos e na alta carga de colesterol.
Empiema
O empiema é caracterizado pela presença de pus, que pode ser proveniente de algum processo infeccioso ou de um abcesso. Problemas relacionados à toracotomia ou à pneumonia também podem gerar a mesma composição purulenta.
Hemotórax
Caso a pessoa seja vítima de algum forte trauma, ela pode apresentar um quadro de coagulopatia. Nos casos mais graves (conforme a intensidade do trauma), existe o risco real de ruptura de um dos vasos essenciais no transporte da corrente sanguínea pelo organismo — a artéria que passa pelos pulmões é um ótimo exemplo.
Em qualquer um dos casos, o sangue é liberado e se acumula.
Classificação quanto à localização
A posição do derrame também é importante para determinar como classificá-lo.
Derrame infra-pulmonar ou subpulmonar
Esse derrame se localiza na região inferior dos pulmões. Os motivos por que o fluido se acumula somente nessa área (ele não se espalha para as laterais da cavidade) ainda são um mistério.
Derrame loculado
Caso o derrame esteja segregado em qualquer área da pleura, ele é denominado loculado. Essa variedade de derrame acontece com mais frequência nos casos de empiema e hemotórax.
Loculação entre as fissuras (tumor fantasma)
Os pulmões são órgãos isolados por pequenas fendas, que se tornam um ambiente propício à aglutinação líquida. Quando algum fluido se deposita nesse local, o diagnóstico fica comprometido após a realização de um exame de raio-X da região torácica. Essa dificuldade de identificação gerou a expressão “tumor fantasma”.
Pulmão preso
Por fim, há ainda o risco do desenvolvimento de um revestimento fibroso ao redor dos pulmões, deixando-os imobilizados (daí a expressão “pulmão preso”). O problema costuma ser provocado pela existência de algum tumor ou da empiema.
O comprometimento dos movimentos tipicamente executados pelos pulmões amplia o volume do líquido transudativo direcionado à cavidade da pleura. O resultado final é uma quantidade exagerada de fluido na região.
Fatores de risco
Naturalmente, alguns fatores de risco promovem os vários tipos de derrame pleural. Entre eles, esses são os mais comuns:
- Hipertensão arterial;
- Contato prolongado com amianto, um composto que, comprovadamente, acelera a formação de câncer;
- Doenças que atacam o próprio sistema imunológico do indivíduo;
- Tabagismo;
- Consumo exagerado de álcool;
- Insuficiência cardíaca.
Derrame pleural e câncer
De fato, o câncer é um dos tipos de patologias que pode originar um derrame pleural. Em uma considerada quantidade de quadros, o problema está ligado ao câncer que chega à pleura via metástase. Some-se a isso a probabilidade de os tratamentos de combate ao câncer (adoção de medicamentos quimioterápicos e de sessões de radioterapia) causarem o derrame.
Na última hipótese, o excesso de líquidos na cavidade pleural surge como uma das possíveis reações adversas relacionadas a essas terapias.
Abaixo listamos as variedades de tumores malignos que mais frequentemente estão associados ao problema na pleura:
- Leucemia — tumor que se inicia na medula óssea;
- Câncer do útero;
- Câncer de mama;
- Câncer cervical;
- Melanoma — um perigoso câncer de pele;
- Câncer do ovário;
- Câncer de pulmão.
Sintomas do derrame pleural
Um dos problemas do derrame pleural é sua característica assintomática. Os sintomas são notados pelo indivíduo somente ao atingirem grandes proporções. E mesmo nessas condições, o derrame pode passar despercebido em alguns pacientes. Na maioria das vezes, os sintomas surgem devido a alguma inflamação da pleura.
Esses são alguns desses sintomas:
- Soluço constante;
- Sensação de indisposição;
- Tosse seca;
- Sensação constante de falta de ar;
- Aumento do espaço entre as costelas — apenas nos quadros que atingem níveis de maior gravidade;
- Sensações de dores no peito — mais nítidas diante de respirações profundas.
Conforme a origem do problema, a febre também pode ser um dos sintomas. Em se tratando das dores no peito, elas são descritas como “pontadas”. Além disso, algumas pessoas relatam que o incômodo é amenizado quando elas se deitam de lado.
Outro sintoma peculiar é a ortopneia, uma dificuldade em respirar (dispneia) quando o corpo está completamente deitado. Isso faz com que o indivíduo seja obrigado a dormir com a cama em uma posição inclinada.
Como é feito o diagnóstico do derrame?

O acúmulo de líquido entre a cavidade torácica e os pulmões pode ser causado por uma doença ou distúrbio. Crédito da imagem: James Heilman, MD, n.d.
Em casos de suspeita, deve-se marcar uma consulta médica para que sejam realizados alguns exames físicos. Com o auxílio de um estetoscópio, o médico tentará detectar possíveis anormalidades durante o ato da respiração do paciente. Se houver a possibilidade de um derrame pleural, serão necessários mais alguns exames específicos para confirmar o diagnóstico.
Radiografia do tórax
Um desses exames é a radiografia do tórax. Os raios-X são extremamente úteis, já que o derrame pleural forma uma mancha esbranquiçada na região atingida. Apesar disso, a radiografia se mostra insuficiente perante derrames pleurais de pequenas proporções. Nestas situações, são necessárias outras metodologias de diagnóstico.
Tomografia computadorizada (CT)
Esse é um exame utilizado com o fim de se obter resultados mais pormenorizados. Além disso, a tomografia computadorizada é muito indicada na detecção de derrames pleurais de pequeno porte.
Ultrassom do peito
A ultrassonografia é um exame caracterizado pela transformação de ondas sonoras em imagens mais nítidas. Nos quadros em que a utilização de radiação for abortada pelos médicos, como no caso de pacientes gestantes, o ultrassom se mostra como uma ótima opção.
Toracocentese
Até o momento, foram apresentados métodos de diagnóstico não invasivos. Ocasionalmente, as respostas fornecidas por esses métodos se mostram insuficientes — seja para ajudar na conclusão do diagnóstico, seja para obter mais detalhes sobre o tipo de derrame pleural a ser tratado.
Nessas circunstâncias, o médico pode recorrer à chamada toracocentese. Trata-se de um exame que penetra o corpo (é uma punção) através das costelas com a finalidade de se chegar à cavidade pleural. Uma vez lá, o médico colhe uma amostra do fluido presente no local. Posteriormente, o líquido é encaminhado para uma avaliação laboratorial.
Videopleuroscopia
Nesse caso, é inserida uma microcâmera no interior da cavidade da pleura. Trata-se de uma medida máxima, ou seja, usada somente se nenhum outro exame proporcionar resultados suficientes para a apresentação de um diagnóstico efetivo.
Diagnóstico deferencial
- Atelectasia
- Condensação lobar
- Espessamento crônico da pleura
- Hemidiafragma elevado
Dica para especialistas: Mesoteliocítose em derrame pleural exsudativo implica tuberculose, até prova em contrário.
Atenção!
É importante que você perceba que o derrame pleural sempre é consequência da manifestação de alguma doença. Logo, a causa do problema precisa ser investigada e tratada adequadamente.
Tem cura? Qual o tratamento?
Há cura para o derrame pleural. Mas uma vez que o derrame pleural é uma reação adversa relacionada a alguma patologia específica, o tratamento inapropriado da doença pode resultar na reincidência da anomalia. Na sequência, confira algumas formas de se tratar o problema!
Drenagem
A toracotomia é um procedimento feito com o intuito de se drenar o excesso de líquido da cavidade pleural. Essa alternativa é recomendada nos casos em que o derrame é bem amplo, o que aumenta a intensidade dos sintomas.
Caso seja necessária uma toracocentese, ela pode ser efetuada simultaneamente com a toracotomia. Todo o processo ocorre mediante aplicação de anestesia local. Se houver um novo derrame, é preciso fazer outra drenagem.
Pleurodese
As pessoas que possuem neoplasias malignas estão mais sujeitas à recorrência do derrame pleural. Devido a isso, recomenda-se a realização da pleurodese, um tipo de cirurgia. Nela, o cirurgião insere cateteres com o objetivo de aplicar um composto (geralmente, alguma citocina proliferativa, nitrato de prata ou talco) capaz de unir as camadas da pleura, suprimindo aquele vazio no qual o fluido do derrame se deposita.
Existe mais de um modo de se executar a pleurodese. Ela pode ser feita até com o auxílio de uma câmera, ou até mesmo durante a realização da toracotomia.
Pleurectomia
Nos quadros mais complexos, pode-se recorrer à pleurectomia. Trata-se de um processo que visa extrair uma parte do tecido da pleura. O procedimento cirúrgico também é indicado se houver infecções — característica do derrame exsudativo. Durante o período posterior à cirurgia, o fluido deve continuar sendo drenado, procedimento que pode se estender por até algumas semanas.
Fisioterapia respiratória
A fisioterapia respiratória é uma terapia extra, realizada com a intenção de ajudar o indivíduo a aprimorar o processo de respiração. Desse modo, é possível amenizar os incômodos inerentes àquela típica falta de ar. O ideal é que essa fisioterapia seja concomitante em todo o período determinado para o tratamento completo do derrame pleural.
Complicações do derrame pleural
É uma condição grave associada a um aumento do risco de morte.
Na maioria das vezes, esses derrames são solucionados sem grandes dificuldades. Nesses mesmos casos, sequer há a necessidade de alguma medida mais drástica, como as intervenções cirúrgicas. Contudo, algumas pessoas realmente precisam ser submetidas a alguns procedimentos invasivos, os quais tendem a gerar com certas complicações.
Edema pulmonar
O edema pulmonar costuma aparecer devido a uma drenagem muito veloz, realizada simultaneamente com a toracocentese.
Pneumotórax
Nesse caso, em vez de líquido a cavidade pleural recebe um excesso de ar, o que provoca o pneumotórax. Desse modo, o indivíduo sente uma profunda falta de ar. Uma das consequências disso é a escassez de oxigênio na corrente sanguínea. Caso o pneumotórax atinge ambos os pulmões, o indivíduo passa a correr risco de morte.
Infecção ou sangramentos
Alguns procedimentos cirúrgicos podem acarretar hemorragias ou processos infecciosos na região pulmonar e na membrana que separa os órgãos. No entanto, vale frisar que essas complicações são bem difíceis de acontecer.
Sepse
A sepse é uma complicação caracterizada por uma infecção generalizada, que pode tanto originar um derrame pleural como ser a causa do acúmulo de líquido na cavidade dessa membrana. Em situações mais graves, a sepse também pode prejudicar significativamente o processo de drenagem do fluido excessivo.
Nas situações em que o indivíduo trate o derrame pleural, mas os sintomas não desapareçam, ele sempre deve relatar o problema para o médico responsável pelo tratamento. O mesmo se aplica ao surgimento de complicações, como as mencionadas anteriormente.
Há como prevenir o derrame pleural?
Como já mencionado antes, o derrame na pleura costuma estar ligado a alguma doença. Logo, o meio mais seguro de se prevenir o problema consiste em evitar o desenvolvimento dessas patologias. Evidentemente, nem sempre essa prevenção será possível, uma vez que certos organismos reúnem as condições ideais para o desenvolvimento de certas doenças, tornando-as quase inevitáveis.
Ao focar a atenção sobre algumas doenças, uma das recomendações reside em manter hábitos de vida saudáveis. A diminuição da ingestão de álcool e o abandono do tabagismo, por exemplo, são fundamentais para a prevenção de doenças crônicas.
Enquanto isso, a prática regular de atividades físicas e a preferência por alimentos saudáveis são essenciais para inibir o desenvolvimento de alguns tumores, além de diminuir as chances de doenças cardiovasculares.
Finalmente, também é necessário manter uma boa higiene pessoal. Desse modo, é possível controlar as populações de bactérias, além de dificultar a transmissão de vírus e fungos. Com essas medidas, o indivíduo consegue se precaver contra derrames pleurais desencadeadas vias processos infecciosos.
Como você pôde perceber, o derrame pleural é uma condição médica consideravelmente habitual e, geralmente, associada a alguma patologia grave. Daí a importância de perceber os sinais desse tipo de derrame o mais rapidamente possível.
Enfermeiro - Coren nº 491692
O Reinaldo Rodrigues formou-se em agosto de 2016, pela Universidade Padre Anchieta, em Jundiai. Fez curso de especialização em APH (Atendimento Pré-Hospitalar), pela escola 22Brasil Treinamentos, em Barueri, curso de 200 horas práticas, com foco em acidentes de trânsito.
Trabalha como Cuidador de Idosos há 5 anos, e possui experiência em aspiração de vias aéreas, banho de aspersão, curativos, tratamento e prevenção de Lesão por Pressão, gerenciamento de Equipe de cuidadores com elaboração de escalas. Treinamento e acompanhamento de cuidadores nas casas dos pacientes.
Também pode encontrar o Reinaldo no Linkedin.
Cohen M, Sahn SA: Resolution of pleural effusions.
https://www.mdsaude.com/
https://thorax.bmj.com/
https://www.aafp.org/
http://www.oncoguia.org.br/
Ajude-nos a melhorar a informação do Educar Saúde.
Encontrou um erro? Está faltando a informação que está procurando? Se ficou com alguma dúvida ou encontrou algum erro escreva-nos para que possamos verificar e melhorar o conteúdo. Não lhe iremos responder diretamente. Se pretende uma resposta use a nossa página de Contato.