Doação de leite materno: o que é, como fazer, como coletar, entenda a importância

O leite materno é o primeiro alimento a que temos acesso após o nascimento. Rico em vitaminas, sais minerais, proteínas e imunoglobulinas (anticorpos), ao ingeri-lo, o bebê fortalecerá sua saúde e crescerá de forma saudável.

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As mães também se beneficiam do ato em si, já que através dele conseguem estreitar os laços afetivos com a pequena vida que acabara de conceber.

Doação De Leite Materno, O Que é, Como Fazer, Como Coletar, Receber E Armazenar

Você já deve ter percebido o quão importante é a amamentação, não é mesmo? Por meio dela, vidas podem ser salvas! Apesar de considerado um gesto nobre, pouco se fala ainda sobre a doação de leite materno.

Nesse artigo, iremos esclarecer a importância dessa ação e dos inúmeros benefícios que ela acarreta, além de pontuar os principais requisitos aos quais a lactante deve se atentar, caso deseje se tornar uma doadora.

Propriedades vantajosas do leite materno

Antes de falarmos da doação de leite materno propriamente dita e dos possíveis parâmetros que devem ser levados em conta para que ela possa ser feita, é interessante nos atentarmos às propriedades e benefícios que o leite materno contêm.

Muitas mulheres não são capazes de produzir leite em quantidade suficiente para alimentar o bebê e por isso optam por fórmulas lácteas que prometem suprir essa necessidade. Na atualidade, existem inúmeras marcas no mercado voltadas para esse público. No entanto, o leite materno ainda é o mais recomendado pelos médicos durante os seis meses de vida da criança.

Dentre as incontáveis vantagens do aleitamento materno, algumas são mais relevantes e, portanto, merecem destaque.

Prevenção do câncer

Linfomas e leucemias são as neoplasias que mais acometem crianças e adolescentes. Vários estudos no âmbito da medicina já comprovaram que a ingestão de leite – nos primeiros seis meses de vida – diminuem em 19% o risco de aparecimento dessas doenças.

O leite materno contém em sua composição uma substância chamada DHA – um ácido graxo pertencente a série do ômega-3 – , de característica anti-inflamatória. Para que o bebê seja capaz de tirar proveito dessa situação, a mãe deve incorporar à sua dieta peixes de águas frias – como o atum e a sardinha.

Prevenção de infecções

O leite materno é rico em anticorpos. Entre eles, nós podemos citar a imunoglobulina tipo A. Essa imunoglobulina confere imunidade às mucosas que recobrem a boca, estômago e intestino.

Portanto, as chances do pequeno indivíduo vir a ter infecções respiratórias, otites e infecções no trato digestório são menores.

Prevenção da diarreia

A diarreia pode parecer um quadro clínico inofensivo. Porém, seus riscos à saúde são altíssimos – podendo levar a criança à morte.

As bactérias presentes no leite materno são capazes de proteger o intestino, além de fortalecer o sistema imunológico.

Prevenção de doenças cardíacas

Estudos recentes demonstraram que, devido às suas propriedades anti-inflamatórias, o leite materno também é um poderoso aliado no combate às doenças cardíacas. Por equilibrar a pressão arterial, a mãe e o bebê se beneficiam em conjunto em um longo prazo.

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Prevenção da obesidade

Infelizmente, a correria do dia a dia é propulsora de péssimos hábitos alimentares. Reflexo do mundo em que vivemos, cada vez mais a taxa de obesidade se expande entre os pequenos.

A obesidade sempre está acompanhada pelo diabetes e problemas cardiovasculares. Logo, bebês que não são amamentados dentro do período estipulado estão mais propensos a serem vítimas dessas fatalidades.

Desenvolvimento do sistema nervoso

Você se recorda que o leite materno apresenta uma substância chamada DHA? Ela não apenas previne o câncer, como também é responsável pela formação de células nervosas e pela comunicação entre elas.

Nosso cérebro sofre mudanças significativas até os 5 anos. Para auxiliar nesse processo, uma dieta rica em DHA é de extrema importância.

Como você pode ver, o aleitamento materno é muito mais que uma fonte alimentar. Os seus efeitos perduram ao longo do período de amamentação e são capazes de inibir as possíveis complicações que uma criança poderia vir a manifestar em um futuro próximo.

Essa fase é, sem dúvida, muito preciosa às mães. As lactantes também usufruem dos privilégios aqui citados. Além de fortalecer os laços afetivos, o contato entre mãe e filho desencadeia respostas hormonais no corpo humano.

No momento da amamentação, os níveis de ocitocina tendem a aumentar, principalmente pelo embalo das emoções que permeiam esse instante. Com esse aumento, a ansiedade se abranda, as mamas ficam mais quentes – o que ajuda o recém-nascido a se manter aquecido – e a produção de leite é estimulada.

As mães, bem como os bebês, também são poupadas de diversos quadros clínicos preocupantes. Em geral, mulheres que amamentam têm uma redução das chances de manifestar câncer de mama, câncer de ovário, diabetes mellitus tipo 2, osteoporose e obesidade.

Qual a importância de doar leite materno?

É de conhecimento da maioria das pessoas que as propriedades nutricionais do leite são relevantes à saúde, mas em contraposição, pouco se sabe sobre a doação de leite materno.

Apesar de ser um alimento responsável por salvar vidas, o assunto ainda não é tão difundido quanto deveria. Devido ao pouco espaço na mídia destinado a essa questão, muitas pessoas não têm o entendimento e a informação necessária para abraçar a causa de vez!

Quem sofre com essa negligência são as mães, que por algum motivo não conseguem produzir leite em quantidade suficiente para amamentar, e o próprio recém-nascido, que, por sua vez, terá uma ingestão deficitária de nutrientes essenciais no controle de possíveis doenças.

O Brasil é referência quanto à estrutura de coleta dos Bancos de Leite Humano. No entanto, de nada adianta essa posição privilegiada se pouco conhecimento acerca do assunto circula entre a população.

Na tentativa – ainda que tímida – de promover a ciência sobre a importância desse ato solidário, o dia 19 de Maio foi decretado como Dia Nacional da Doação de Leite Materno.

A quem essa doação pode interessar?

Quem Recebe As Doações De Leite Materno

De um lado, se encontram todas as mulheres pouco abençoadas com a abastança de leite materno. Por outro, existem aquelas que, felizmente, o produzem em quantidade generosa e podem dispor desse excedente para outras mães.

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As causas para a baixa produção de leite são variadas e passeiam do pouco contato com o bebê até patologias mais complexas, incluindo distúrbios hormonais e depressivos.

Sem dúvida, isso afetará o recém-nascido. O leite é o primeiro alimento ao qual temos contato. Sem ele, nós poderíamos apresentar diversas doenças que seriam capazes de ser controladas apenas com o aleitamento materno, caso ele nos fosse viável.

Além dos bebês que não conseguem ser amamentados pelas mães, há aqueles que nasceram antes do tempo previsto – os prematuros – e os que apresentam disfunções gastrointestinais, por exemplo. Nesses casos, a situação é mais delicada e exige mais cuidados.

Aos poucos, a divulgação desse trabalho incrível vem conquistando seu espaço nos veículos de informação. Isso acontece por meio de campanhas amparadas pelo Ministério da Saúde e demais ONG’s que se sensibilizam pela causa.

No entanto, dos 100% que deveriam receber as doações, apenas 60% dos recém-nascidos as conseguem. Mesmo sendo um número alto para a situação em que vivemos, há muito trabalho a ser feito pela Rede Global de Leite Humano e outros órgãos – como o próprio Ministério da Saúde.

Quais são os requisitos para se tornar uma doadora de leite materno?

Para ser uma doadora de leite materno o requisito básico é estar em fase de amamentação. Mas para de fato ter chances de se tornar uma doadora, a mulher deve produzir leite em excesso. Ou seja, não pode faltar alimento ao seu bebê.

Caso a mulher se interesse pela ideia, o primeiro passo é procurar o Banco de Leite Materno mais próximo. Em geral, a doação de leite pode ser feita ao próprio hospital ou maternidade em que a mãe realizou o pré-natal e/ou o parto em si.

De início, será feita uma avaliação para checar sua saúde e seus hábitos de vida para, assim, ser concretizado o cadastro. A avaliação consiste em:

  • Analisar o pré-natal ou o pós-natal, a fim de descobrir se a futura doadora apresenta algum quadro clínico capaz de impedi-la de exercer essa atividade;
  • Indagar se a mulher interessada é usuária de drogas ilícitas e de álcool;
  • Indagar se ela é fumante;
  • Averiguar os possíveis medicamentos que a paciente faz uso.

Tendo em vista a situação e a fragilidade de quem receberá as doações, os Bancos de Leite Materno devem ser bem rigorosos quanto aos requisitos e avaliações, para que nenhuma vida seja colocada em risco.

Se a mulher estiver apta às normas estabelecidas, serão fornecidos os preceitos iniciais para a ordenha e as precauções a serem levadas em conta.

Como preparar o frasco para a coleta?

Para ser dado o pontapé inicial, é imprescindível ter ciência sobre o frasco a ser utilizado e como esteriliza-lo.

Nem todas as mulheres recebem o kit de ordenha dos Bancos de Leite, mas isso não é um empecilho. A doação pode ser feita da mesma forma, se seguidas as precauções necessárias.

O frasco deve ser de vidro e pode ser reutilizado. Ou seja, você pode reaproveitar frascos de maionese, de café ou semelhante. O segundo passo é esteriliza-los da seguinte maneira:

  • Retire os rótulos aderidos ao vidro e, em seguida, lave-o com água e sabão;
  • Enxugue o frasco o máximo que conseguir com um pano limpo;
  • Em uma panela com água, coloque a tampa e o frasco. A partir do início da fervura, conte 15 minutos;
  • Posteriormente, desligue o fogo e escoe a água. Retire a tampa e o frasco e os coloque de cabeça para baixo em uma superfície limpa – de preferência, forrada com papel toalha;
  • De forma alguma utilize papel ou pano para secá-los. Deixe que a água escorra naturalmente.

Como fazer a ordenha?

Como Fazer A Ordenha Do Leite Materno

Chamamos de ordenha o processo de extração de leite. Assim como com o frasco, o cuidado com a ordenha deve ser mais minucioso ainda. A ordenha só pode ser feita após o término da amamentação ou quando as mamas estiverem cheias o suficiente.

Para evitar contaminações, a higiene pessoal é muito importante.

Antes da retirada de leite, recomenda-se a higienização das mãos e antebraços com água e sabão, bem como das mamas. Para a secagem, utilize uma toalha limpa.

As unhas devem estar limpas e, de preferência, curtas, enquanto os cabelos devem ficar presos. E, por fim, é indicado por muitos especialistas que a mãe utilize um pano para cobrir a boca.

Como retirar o leite materno

Agora, vamos partir para a ordenha em si. Existem duas formas possíveis de se extrair o leite materno: a manual e a feita através de bombinhas.

Ordenha manual

De início, a mulher precisa estimular a produção de leite. E como isso é feito? Bem, de forma simples. Basta uma massagem suave e circular em torno da aréola.

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Após o estímulo, deve-se posicionar o dedo indicador sobre a aréola e bombeá-la. A pressão exercida se assemelha à sucção feita pelo bebê no momento da amamentação.

Os primeiros jatos de leite expelidos devem ser desprezados. A mãe só pode começar a coleta depois dessa tarefa.

Ordenha com bombinha tira-leite

Muitas mulheres alegam que a bombinha é muito mais prática para a extração de leite do que o estímulo feito por meio das mãos, já que esse último método é repetitivo e cansativo. Existem dois tipos de bombinha:

  • Manual (Não elétrica)

Assim como o procedimento manual, esse também exige que haja um estímulo na região da aréola para facilitar a saída do leite.

O processo é simples, prático e seguro. No entanto, ele pode provocar alguns desconfortos, tal como os movimentos que o recém-nascido faz ao mamar.

A bombinha manual – além de oferecer praticidade à mulher – tem um preço acessível e não produz barulho, podendo ser transportada para qualquer lugar.  Antes do seu uso, ela deve ser esterilizada.

  • Elétrica

Mais uma opção que temos no mercado, a bombinha elétrica é a queridinha de muitas mães que querem praticidade e sentem dores nas mãos ao realizar os movimentos de sucção da bombinha convencional.

Ela pode ser encontrada em duas versões: a que pode ser usada em casa ou em hospitais. Não é aconselhado comprar a bombinha utilizada em hospitais, já que a outra desempenha com sucesso o trabalho que se propõe a fazer.

Em geral, o preço costuma ser mais caro do que o da bombinha convencional. Porém, o benefício e conforto compensam, uma vez que a extração de leite é feita mais rapidamente.

Como armazenar o leite materno coletado?

Todo cuidado é pouco nesse momento. Aproximadamente 30% do conteúdo é perdido durante o caminho – entre a coleta e a ingestão por parte do bebê.

Por isso, é preciso ter cautela na hora de armazenar o leite, para que não se perca o restante. Na primeira coleta, é natural que o frasco não fique totalmente cheio como a mulher gostaria. Mas isso pode ser corrigido ao longo das próximas retiradas.

O leite extraído deve ser armazenado no frasco esterilizado e acondicionado no freezer ou congelador, com permanência máxima de 15 dias. Em hipótese alguma o leite já congelado deve ser descongelado. O ideal é que tenha um espaço de 2 a 3 dedos entre o conteúdo e a tampa, para evitar derramamentos e outros acidentes.

Há uma quantidade mínima de leite materno a ser doado?

É interessante destacar que não existe uma quantidade mínima estabelecida de leite a ser doado. Sendo assim, a mulher não precisa se preocupar com o volume coletado. O que, de fato, faz diferença é a quantidade de mães que aderem a essa campanha! Se levarmos em conta que 1 mL do conteúdo por cada refeição consegue suprir a demanda, isso que significa que a cada 1 pote doado 10 recém-nascidos serão alimentados. Portanto, toda doação é bem-vinda!

Como o leite é transportado até o Banco de Leite Humano?

Alguns hospitais disponibilizam uma equipe para se locomover até a casa da lactante, extrair o leite e encaminhá-lo até os Bancos de Leite Humano – onde o líquido ficará armazenado e passará por processos de higienização.

Além da equipe fornecida pelo hospital, os bombeiros também podem desempenhar essa tarefa. Todavia, nem sempre é isso o que ocorre. Na maioria dos casos, as próprias lactantes recebem orientações sobre a higienização necessária, a ordenha e o método de transporte mais seguro.

Não há problema nisso! Se a mulher seguir todos os passos corretamente, conforme indicados pelos bancos de doação, o leite estará em boas condições para ser recebido.

O leite a ser transportado deve estar armazenado em uma caixa isotérmica e com gelo reciclável, a fim de manter a temperatura ideal – a 5°C para não congelados, e abaixo de -3°C para aqueles que já se encontravam congelados.

O procedimento todo não pode ultrapassar 6 horas. Quanto a isso, estamos nos referindo ao tempo de ordenha até a entrada do leite propriamente dito nos bancos de doação.

Nos Bancos de Leite Humano, ele passará por um processo de higienização, conhecido por pasteurização. Assim como antes, a tolerância máxima é de 6 horas até o seu destino final.

Posso confiar na qualidade do leite doado?

Sim. Diferentemente do leite proveniente da amamentação cruzada, o leite materno recebido pelos Bancos de Leite Humano é 99,9% confiável.  A chamada amamentação cruzada ocorre quando a lactante doa o leite diretamente para outro recém-nascido, que não o seu filho. Nesse caso, a mulher amamenta o bebê no próprio peito.

Essa prática era muito comum entre as mulheres indígenas e as amas de leite que viveram no Brasil em pleno período colonial. Porém, só na década de 1980 o questionamento sobre a segurança dessa prática veio à tona — com o boom da AIDS.

Transmissora de doenças, a amamentação cruzada é fortemente contestada nos dias atuais. Hoje, existem métodos mais seguros que garantem a qualidade de vida da mãe e do bebê, como é o caso da doação de leite.

A doação de leite materno não é apenas uma questão de saúde pública, mas também um gesto de empatia, amor e solidariedade às vidas que acabaram de vir ao mundo!

Gostaria de se tornar uma doadora de leite materno? Não hesite em procurar a maternidade ou o hospital mais próximo. Essa ação salva vidas!

Autores
Drª Gizele Cunha (Pediatra, Alergologista e Pneumologista Infantil - CRM/SP: 116541)

Pediatra, Alergologista e Pneumologista Infantil - CRM/SP: 116541

A Dra Gizele Ferreira Cunha é Graduada em Medicina pela Universidade de Ribeirão Preto - SP - 2004. Além disso possui:

- Especialização em Alergia e Imunologia Infantil pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (HCRP - FMRP - USP) – 2009.

- Especialização em Pneumologia Infantil pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (HCRP - FMRP - USP) – 2007.

- Especialização em Pediatria pela Universidade de Ribeirão Preto - 2006 .

Endereço: Avenida Senador César Vergueiro, 571 - Ribeirão Preto - SP - Email: cviver@bol.com.br - Telefone: (16) 33291337

Também pode encontrar a Drª Gizele no Linkedin e Facebook


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    Última atualização da página em 29/06/21