O que é? A nevralgia do trigêmeo, também conhecida por tique doloroso, é uma doença que afecta um nervo da face denominado nervo trigêmeo ou quinto par craniano.
Existem dois nervos trigêmeos, um de cada lado da face.
Estes nervos são responsáveis pela detecção da sensibilidade táctil, dolorosa, térmica e da pressão nas áreas da face situadas entre a mandíbula e a região frontal.
As pessoas que têm uma nevralgia do trigêmeo geralmente referem episódios de dor facial súbita, intensa, tipo “facada” ou tipo “choque eléctrico”.
Esta dor pode ocorrer em praticamente qualquer zona entre a mandíbula e a região frontal, incluindo o interior da boca.
No entanto, geralmente encontra-se limitada a um dos lados da face.
Causas
Em alguns casos, a causa da nevralgia do trigêmeo é desconhecida.
Contudo, em muitas pessoas parece existir alguma coisa a irritar o nervo trigêmeo, geralmente dentro do crânio, numa área profunda onde se origina o nervo.
Na maior parte dos casos, pensa-se que a irritação é causada por um vaso sanguíneo anormal que exerce pressão sobre o nervo.
Mais raramente, o nervo é irritado por um tumor do cérebro ou dos nervos.
Por vezes, o problema encontra-se relacionado com um tipo raro de acidente vascular cerebral.
Além disso, até 8% dos doentes que sofrem de esclerose múltipla (doença neurológica que afecta o encéfalo e a medula espinhal) acabam por desenvolver uma nevralgia do trigêmeo.
A nevralgia do trigémeo afecta as mulheres com uma frequência ligeiramente maior do que os homens, possivelmente devido ao facto da doença ser mais comum nas pessoas idosas e as mulheres viverem mais tempo.
O primeiro episódio de dor facial ocorre geralmente quando o doente tem 50 a 70 anos de idade.
Embora as crianças e os adultos jovens possam desenvolver esta doença, a nevralgia do trigémeo é rara nas pessoas com idade inferior a 40 anos.
Sintomas e Manifestações clínicas
A nevralgia do trigêmeo causa episódios de dor facial intensa súbita que dura desde alguns segundos a dois minutos.
Na maior parte dos casos, a dor é descrita como excruciante, tipo “facada”, tipo “picada”, tipo “queimadura”, semelhante a um “raio” ou como um “choque eléctrico”.
Na maior parte dos casos é afectado apenas um dos lados da face.
A dor da nevralgia do trigémeo é reconhecida como uma das formas de dor mais intensa.
A dor é frequentemente desencadeada por movimentos faciais ou estímulos não dolorosos, tais como falar, comer, lavar a cara, escovar os dentes, barbear ou tocar suavemente na face.
Em alguns casos, mesmo uma brisa ligeira na face é suficiente para desencadear uma crise.
Em cerca de 50% dos doentes, o episódio de nevralgia pode ser desencadeado pelo toque em determinados pontos ou zonas na face (áreas de gatilho), geralmente localizados entre os lábios e o nariz.
Em alguns casos surge uma sensação de formigueiro ou de entorpecimento antes da dor.
As crises de nevralgia do trigémeo podem variar significativamente e podem ocorrer em surtos, com vários episódios ocorrendo em série ao longo de um dia.
Por motivos desconhecidos, a nevralgia do trigémeo quase nunca ocorre de noite, quando a pessoa está a dormir.
Alguns doentes apresentam também contracções ou espasmos musculares da face.
Foram estes espasmos musculares faciais que deram origem à antiga designação de tic douloureux (em francês, tic significa contracção ou espasmo muscular; douloureux significa doloroso).
Diagnóstico
O médico irá interrogar o doente sobre os sintomas e a história clínica, incluindo antecedentes de esclerose múltipla (doença que, entre outras manifestações, pode provocar nevralgia do trigémeo).
Para ajudar a excluir doenças médicas e dentárias que possam apresentar sintomas semelhantes, o médico irá averiguar se o doente apresenta uma história de:
- traumatismo recente da face ou dos dentes
- uma infecção ou um tratamento dentários recentes
- uma extracção dentária do mesmo lado da dor facial? por vezes uma extracção dentária pode causar dor na área do dente em falta.
- quaisquer áreas com vesículas faciais dolorosas? as vesículas dolorosas podem constituir um sinal de que a pessoa sofre de uma infecção viral, como herpes (que é causado pelo vírus herpes simplex) ou zona (que é causada pelo vírus varicela-zoster, o vírus da varicela). A dor facial pode persistir durante semanas depois das vesículas cicatrizarem, especialmente no caso da zona.
Em seguida, o médico irá examinar a cabeça e o pescoço do doente, incluindo a superfície interna da boca.
O médico irá também realizar um exame neurológico sumário, prestando particular atenção à sensibilidade e aos movimentos musculares da face.
Em quase todos os casos de nevralgia do trigémeo, os resultados destes exames são normais.
Se necessário, o médico irá pedir uma ressonância magnética nuclear (RMN) ou uma tomografia computorizada (TC) crânio-encefálica para procurar anomalias dos vasos sanguíneos, tumores que comprimam o nervo trigémeo ou outras causas possíveis para os sintomas.
O médico irá diagnosticar uma nevralgia do trigêmeo com base nos sintomas, no exame físico e nos resultados dos exames.
Não existe um teste específico que permita confirmar o diagnóstico de nevralgia do trigémeo pelo que uma parte importante do diagnóstico consiste em excluir outras explicações para os sintomas.
Evolução clínica
A nevralgia do trigêmeo é imprevisível.
Por motivos desconhecidos, muitas pessoas têm períodos em que a doença subitamente se agrava e provoca episódios dolorosos repetidos ao longo de vários dias, semanas ou meses.
Este período pode ser seguido por um intervalo livre de doença que pode durar meses ou anos.
O tipo de tratamento pode influenciar a duração dos sintomas.
Alguns tratamentos comportam um risco mais elevado de recorrência dos sintomas.
Prevenção
Uma vez que a causa da nevralgia do trigémeo é desconhecida, esta doença não pode ser prevenida.
Tratamento
O tratamento de primeira linha para a nevralgia do trigémeo é geralmente a carbamazepina.
A carbamazepina é um medicamento anti-convulsivante que diminui a capacidade do nervo trigémeo para libertar os impulsos nervosos que causam a dor facial.
Se a carbamazepina não for eficaz, outras opções medicamentosas possíveis incluem a fenitoína, a gabapentina, a lamotrigina, o topiramato e o ácido valpróico.
Um relaxante muscular, como o baclofeno, pode ser experimentado isoladamente ou em combinação com um anti-convulsivante.
Alguns destes medicamentos estão associados a um risco de efeitos secundários desagradáveis, incluindo sonolência, problemas hepáticos, alterações sanguíneas, náuseas e tonturas.
Por este motivo, as pessoas medicadas com estes fármacos devem ser monitorizadas através de consultas de seguimento frequentes e de análises de sangue periódicas.
Depois de alguns meses sem dor, o médico pode experimentar diminuir gradualmente a dose dos medicamentos ou mesmo suspendê-los.
Isto é feito para limitar o risco de efeitos secundários provocados pela medicação e para determinar se a nevralgia do trigémeo desapareceu espontaneamente.
Se o medicamento não eliminar a dor ou se a pessoa não conseguir tolerar os efeitos secundários da medicação, então o médico pode sugerir uma das seguintes opções de tratamento:
Cirurgia percutânea
Nesta abordagem, parte do nervo trigémeo é temporariamente inactivada através da utilização de um dos seguintes métodos: uma sonda aquecida, uma injecção de uma substância química, o glicerol, ou a insuflação de um pequeno balão próximo do nervo para o comprimir.
Durante o procedimento, uma agulha ou um pequeno tubo denominado trocater é inserido através da pele da face.
Estes procedimentos proporcionam um alívio imediato em até 99% dos doentes mas 25 a 50% das pessoas irão notar uma recidiva do problema durante os anos seguintes.
Radiocirurgia estereotáxica
Esta forma de radioterapia utiliza um acelerador linear ou um bisturi gama para inactivar parte do nervo trigémeo.
Depois da cabeça do doente ser cuidadosamente posicionada num suporte especial, muitos feixes minúsculos de radiação são dirigidos com precisão para a parte do nervo trigémeo que tem de ser inactivada.
A radiocirurgia estereotáxica constitui uma opção de tratamento recente para a nevralgia do trigémeo e a sua taxa de sucesso a longo prazo ainda está a ser avaliada.
Descompressão microvascular do nervo trigêmeo
Nesta intervenção cirúrgica delicada, o cirurgião reposiciona cuidadosamente o vaso sanguíneo que está a comprimir o nervo trigémeo próximo do cérebro.
Uma vez que este procedimento envolve a abertura do crânio, o candidato ideal para este tratamento é uma pessoa de um modo geral saudável e com idade inferior a 65 anos.
Globalmente, a taxa de sucesso imediata é de, aproximadamente, 90% e 70 a 80% dos doentes apresentam um alívio a longo prazo.
A descompressão microvascular pode ser eficaz nos casos em que uma das cirurgias menos invasivas não foi bem sucedida.
Quando contactar um médico
Deve procurar cuidados médicos imediatamente se surgir uma dor facial que se enquadra nas características da nevralgia do trigêmeo.
Prognóstico
Na maior parte dos casos, o prognóstico é bom. Aproximadamente 80% dos doentes ficam sem dores apenas com a medicação.
Quando o tratamento farmacológico não é eficaz ou produz efeitos secundários indesejáveis, encontram-se disponíveis outras opções de tratamento que apresentam também uma elevada taxa de sucesso.
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Informação adicional
- Sociedade Portuguesa de Neurologia http://www.spneurologia.org
- Associação Portuguesa para o Estudo da Dor http://www.aped-dor.org
- Sociedade Portuguesa de Neurocirurgia http://www.spnc.pt/
- Alto Comissariado da Saúde http://www.acs.min-saude.pt/
Enfermeiro - Coren nº 491692
O Reinaldo Rodrigues formou-se em agosto de 2016, pela Universidade Padre Anchieta, em Jundiai. Fez curso de especialização em APH (Atendimento Pré-Hospitalar), pela escola 22Brasil Treinamentos, em Barueri, curso de 200 horas práticas, com foco em acidentes de trânsito.
Trabalha como Cuidador de Idosos há 5 anos, e possui experiência em aspiração de vias aéreas, banho de aspersão, curativos, tratamento e prevenção de Lesão por Pressão, gerenciamento de Equipe de cuidadores com elaboração de escalas. Treinamento e acompanhamento de cuidadores nas casas dos pacientes.
Também pode encontrar o Reinaldo no Linkedin.
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