A tanorexia ou o vício em bronzeamento, é um transtorno dismórfico corporal, ou seja, uma preocupação excessiva com a imagem e com os possíveis defeitos físicos que possam haver nela. Na presença do distúrbio, o indivíduo mostra ansiedade e obsessão por um suposto defeito físico que destaca de forma exagerada, neste caso – pele pálida, ou muito clara. Em muitos casos, essa distorção da realidade pode até levar a defeitos que não existem, ou seja, são imaginados pelo indivíduo.
Um exemplo claro de distorção da realidade é o que ocorre na anorexia nervosa, durante a qual a pessoa afetada se vê com excesso de peso, quando na realidade é magra ou muito magra (possui um Índice de Massa Corporal abaixo dos níveis normais).
Durante a tanorexia, a distorção da realidade leva a pessoa a nunca parecer bronzeada o suficiente. Ou seja, o indivíduo vê a sua pele branca, quando na realidade ela por vezes já está bronzeada.
Alguns profissionais associam a tanorexia alguns distúrbios alimentares, por apresentar aspectos comportamentais e psicológicos comuns. Na tanorexia, além da percepção irreal do tom de pele, a pessoa afetada apresenta ansiedade, baixa auto-imagem, medo de perder o bronzeado e desejo constante de escurecer o tom de pele.
A tanorexia ainda não é considerada uma entidade diagnóstica diferenciada, portanto, a sua definição está enquadrada como um tipo de distúrbio comportamental.
Como todos os transtornos dismórficos corporais (TDC), a tanorexia ocorre em pessoas que se preocupam excessivamente com o cuidado da imagem e beleza. O perfil característico de uma pessoa com a compulsão por estar bronzeada é geralmente o adulto jovem, entre os 17 e 35 anos, principalmente mulheres.
Outra característica que define a tanorexia é a perda de controle. O indivíduo sente-se “tentado” a repetir um comportamento, tendo consciência, em maior ou menor grau, das consequências negativas que isso acarreta.
A ignorância das consequências negativas do vício, em detrimento do bem-estar imediato, é um comportamento presente em todos os vícios. Portanto, é típico que o tanoréxico apresente outros vícios ou hábitos repetitivos além do bronzeamento, como o tabaco, por exemplo.
Também é comum o indivíduo tanoréxico ter problemas de saúde associados a esse hábito repetitivo: queimaduras e manchas na pele, envelhecimento prematuro, pele seca e de aparência ruim e até mesmo câncer de pele. Os danos na pele podem ser muito graves, irreparáveis, e manifestar-se a longo prazo.
A tanorexia forma parte de um conjunto de vícios resultantes da vida moderna, definidos no início do século XXI, como o vício por fazer compras, por videogames ou pelo uso da Internet.
Causas da tanorexia
A tanorexia é um tipo de dependência que envolve distúrbios psicológicos e problemas de saúde da pele. Foi definida no início do século XXI por um grupo de médicos americanos para descrever o comportamento de alguns dos seus pacientes: obsessão por bronzeamento, problemas de pele, ansiedade e distorção da realidade, como consequência do estilo de vida moderno e da fixação do bronzeamento como um traço de beleza. Portanto, a tanorexia tem a sua origem em fatores socioculturais.
Durante os séculos passados, antes da revolução industrial, a alta sociedade era diferenciada da classe trabalhadora, entre outras coisas, pelo tom de pele. A pele morena e bronzeada estava relacionada a trabalhos ao ar livre, enquanto peles pálidas e claras era sinal de um bom padrão de vida.
Várias fontes apontam o designer, Coco Chanel, como um dos condutores do hábito de se bronzear. Com a chegada do biquíni na década de 40 e o estabelecimento do atual cânone de beleza décadas depois, o bronzeamento tornou-se difundido na sociedade como um hábito desejável, um sinal de um bom padrão de vida e um traço de beleza.
Origem bioquímica
Embora os fatos indiquem que a tanorexia se originou como resultado de fatores socioculturais, a verdade é que podem haver razões biológicas pelas quais a pessoa desenvolva dependência ao bronzeamento.
Estudos científicos mostram que uma das propriedades do sol na pele é a liberação de endorfinas (opioides endógenos), hormônios que regulam o bem-estar e o bom humor. O sol também estimula a produção de serotonina, neurotransmissor do sistema nervoso que produz uma sensação de bem-estar e relaxamento.
Ou seja, as pessoas viciadas em bronzeado poderão procurar essa sensação agradável através do seu comportamento, de forma muito semelhante a uma pessoa viciada em drogas. O abuso de substâncias e a tanorexia, podem ter, portanto, a mesma causa, ou seja, uma origem química. No entanto, são necessários mais estudos para comprová-lo.
Podem também haver indivíduos com maior probabilidade de sofrer de tanorexia que outros. Existem estudos, embora ainda recentes e pouco representativos, que revelam que pessoas com o vício em bronzeamento, têm um gene que não está presente em pessoas sem o vício: o gene PTCHD2. A sua função ainda não é clara na comunidade científica, mas pode significar que existe uma predisposição biológica a sofrer dependência ao bronzeamento, como é o caso de outras doenças.
Sintomas
A tanorexia é manifestada pelo desejo permanente e obsessivo de tomar banhos de sol ou de usar cabines de bronzeamento artificial para manter ou intensificar o bronzeado na pele. Como consequência, o tanoréxico pode ter uma das seguintes características físicas:
- Bronzeamento excessivo
- Pele seca e envelhecida
- Queimaduras solares
- Manchas que mudam de forma
- Câncer de pele, em diferentes tipos.
Além disso, sendo um distúrbio psicológico, existem algumas características comportamentais típicas:
- Irritabilidade, agravada em dias nublados porque a pessoa não pode tomar sol.
- Uso de cabines solares ao longo do ano.
- Competitividade com outras pessoas em seu redor para ver quem é mais bronzeado.
- Distorção da realidade: o indivíduo acha que a sua pele é pálida ou não é marrom (castanho) o suficiente, mesmo que esteja muito bronzeada.
- Ansiedade e medo da ideia de perder o bronzeado.
- Baixa auto-estima.
- Problemas pessoais, sociais, trabalhistas e negligência de responsabilidades como resultado de usar muito tempo no bronzeamento.
- Repetir o comportamento de forma excessiva, apesar dos danos físicos ou problemas pessoais originados.
Outra característica psicológica do vício em apanhar sol é a ansiedade. A simples ideia de perder a coloração escura da pele pode gerar medo e sintomas físicos, como taquicardia, falta de ar e aperto no peito.
Por fim, a pessoa com dependência em banhos de sol geralmente têm baixa auto-estima, o que favorece o distúrbio. Com a intenção de ser mais bonito e assemelhar-se ao “modelo estabelecido pela sociedade“, o indivíduo ignora até mesmo as consequências negativas desse excesso, tanto os danos físicos quanto os problemas pessoais. Ignorando todos os avisos das pessoas em seu redor, incluindo os do médico – procurando constantemente a recompensa imediata fornecida pelo banho de sol.
Tratamento
A tanorexia é um distúrbio psicológico que geralmente promove outros problemas de saúde associados, mas pode ser tratado e curado. Obviamente que, algumas consequências desse abuso podem não ser fáceis de resolver, como um câncer de pele, por exemplo.
O tratamento da tanorexia deve ser realizado de forma multidisciplinar, com a ajuda do psicólogo, psiquiatra e dermatologista. Muitas vezes não é fácil identificar a tanorexia. A presença de danos físicos muitas vezes é o primeiro sinal de aviso.
Uma vez que a pessoa reconheça e aceite o problema, o psicólogo realiza uma avaliação para determinar a extensão do distúrbio e o tratamento a ser seguido. A principal terapia a ser realizada terá como foco o fortalecimento da auto-estima e a recuperação da percepção da realidade e do corpo. É importante o psiquiatra avaliar também a presença de ansiedade ou impulsividade derivada do seu comportamento, e indicar a melhor terapia.
Quanto aos danos físicos, esses por vezes requerem a intervenção do dermatologista. Tônicos e cremes são geralmente os produtos indicados para restaurar a hidratação e elasticidade que a pele pode ter perdido como resultado da exposição excessiva ao sol. Em casos graves, pode ser necessário tratamento para queimaduras intensas.
A compulsão por estar bronzeado é um fator de risco para qualquer tipo de câncer de pele. Algumas fontes indicam que as pessoas com o vício têm 75% maiores chances de desenvolver a doença. A maioria dos cânceres de pele pode ser tratada com técnicas cirúrgicas (remoção da área afetada pelo tumor). No estágio inicial de alguns carcinomas, é necessário remover as camadas superficiais da pele.
Quando os danos são mais profundos e ocorre um melanoma, ou se outros tipos de carcinoma tiverem evoluído com complicações, o tratamento geralmente é mais difícil.
Quando se trata de um melanoma que produz metástases, as chances de sobrevivência diminuem drasticamente. A prevenção e detecção precoce do câncer de pele são, portanto, essenciais.
Felizmente, os tumores de pele são mais fáceis de detectar por serem visíveis.
Evolução
A tanorexia evolui lentamente, por um período suficiente que leve o indivíduo a desenvolver o distúrbio psicológico e ficar com a pele bronzeada, e por vezes lesada.
Inicialmente o indivíduo começa a bronzear-se excessivamente com a intenção de melhorar a aparência física.
Geralmente começa com banhos de sol ao ar livre, especialmente no verão.
Quando não fica satisfeito com o tom de pele adquirido durante as férias, o indivíduo começa a bronzear-se durante todo o ano.
Normalmente os problemas de pele associados à exposição excessiva ao sol ocorrem quando o vício não é detectado e reduzido com o tempo.
Inicialmente surgem as primeiras queimaduras solares, que a pessoa geralmente tenta esconder com maquiagem ou roupas. Com o tempo, percebe-se uma pele mais seca e envelhecida, perde elasticidade e podem aparecer manchas e verrugas que antes não existiam.
A longo prazo, o câncer de pele é a consequência mais séria do distúrbio.
“A nossa pele tem memória”. O histórico de queimaduras durante a juventude aumenta o risco de carcinoma. Portanto, mesmo uma pessoa que tenha superado o distúrbio, pode não estar livre das consequências e danos infligidos à sua pele.
Os cânceres de pele não melanoma são mais fáceis de tratar e geralmente têm um bom prognóstico, como o carcinoma basocelular ou a queratose actínica, por exemplo.
Se ocorrer um melanoma, o tipo de câncer de pele mais agressivo, a consequência pode ser a morte.
No melanoma é essencial a detecção precoce, porque, se ocorrer metástase, ou seja, se o tumor se espalhar para outros órgãos do corpo, a taxa de sobrevida é muito baixa.
Felizmente, o câncer de pele pode ser detectado visivelmente (através de manchas ou nevos melanocíticos que mudam de cor ou forma). Um melanoma identificado a tempo pode ser tratado com um prognóstico favorável em 95% dos casos.
Como prevenir a Tanorexia
A prevenção da tanorexia deve ser realizada de duas formas: psicológica e clínica. A prevenção psicológica deve começar logo cedo.
Durante a infância, pais e educadores devem promover a auto-estima da criança: fazê-la sentir-se amada e valiosa, reforçando-a positivamente nas realizações que alcança, mesmo que sejam mínimas (vestir-se sozinha, ir ao banheiro) e atribuir pequenas tarefas e responsabilidades (cuidar de uma planta ou animal de estimação). Ao recebermos isso, existem muitas probabilidades de nos tornarmos um adulto com uma saúde mental adequada.
Com uma auto-estima bem trabalhada na infância, é mais fácil para o adolescente entender que a imagem não é uma prioridade para ser feliz. E, embora a maioria dos adolescentes tenham problemas de auto-estima e insegurança em alguns momentos, geralmente são uma fase passageira.
Por outro lado, se o adolescente não tiver um bom conceito de si mesmo, pode estar em risco de sofrer algum distúrbio, como a tanorexia. O vício em bronzeamento tem uma incidência muito menor que outros distúrbios comportamentais, como a anorexia ou bulimia.
O distúrbio é mais comum em meninas, mas também existem casos de meninos viciados no bronzeamento.
Uma boa educação em saúde faz parte da prevenção clínica da tanorexia. A consciência da importância de se proteger do sol logo desde a infância ajudam o indivíduo a ficar mais consciente dos danos causados pelo bronzeamento excessivo durante a vida adulta. Para uma boa prevenção solar, é necessário:
Limite os banhos de sol, especialmente entre as 12 h e as 17 h.
Evite as cabines de bronzeamento artificial. As cabines ultravioleta (UV) proporcionam um corpo bronzeado ao longo do ano.
Essa satisfação imediata torna a cabine de bronzeamento um importante fator de risco no desenvolvimento da tanorexia. Além disso, aumenta o risco de doenças de pele, como o câncer. *Em alguns países é proibido o uso destes equipamentos.
Use protetor solar, tanto para evitar o bronzeamento excessivo como para evitar queimaduras solares. Para saber o tipo de proteção mais adequado, é necessário conhecer o fototipo da sua pele.
Dermatologista - CRM: 46.608 / RQE: 32.368
O Dr. Daniel Seixas Dourado é Graduado em Medicina pela Universidade Severino Sombra – RJ – 2007. Para além disso possui:
- Especialização em Dermatologia: Hospital Eduardo de Meneses (FHEMIG) – 2009.
- Pós-Graduação Lato-Sensu em Medicina e Cirurgia Aplicada a Estética: CEMEPE – Belo Horizonte – 2010.
- Título de especialista em Dermatologia: Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) e pela associação médica brasileira – AMB.
- Especialização em cirurgia da restauração capilar: Facultè de médecine Pierre et Marie de Curie de Paris / France – 2014.
- É membro titular da sociedade brasileira de dermatologia – SBD.
- Membro titular da sociedade brasileira de cirurgia Dermatológica (SBCD).
- Membro da associação brasileira de cirurgia e restauração capilar- ABCRC.
Endereço: Rua Bernardo Guimarães, 2717, sala 903 - Santo Agostinho, Belo Horizonte – MG
Email: atendimento@drdanieldourado.com.br
Telefone: (31) 9 9446 2446
Também pode encontrar o Dr. Daniel no Linkedin, Facebook e Instagram. Pode consultar o Currículo Lattes Aqui.
- Dra. Blanca Bueno Julia-Capmany, especialista em medicina psicológica. Centro Médico Teknon.
- Dr. José Carlos Moreno, dermatólogo e presidente de honor da Asociación Española de Dermatología y Venereología (AEDV)
- ‘Behavioral Adictions’. Dr Nancy Petry. Oxford University Press, (2015)
- ‘Addictive Effects of Frequent Tanning’. Wakle Forest Baptist Medical Centre (2006)
- ‘Mesurement of tanning dependence’. Heckman, C.J. Northwestern University Feinberg School of Medicine. (2014)
- Can You Be Addicted to Tanning? New Study Says Yes – www.skincancer.org/blog/can-you-be-addicted-tanning
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