O vaginismo é o “espasmo muscular que ocorre ao redor da vagina, e que literalmente aperta o órgão, tornando a penetração extremamente desconfortável”. É uma contração completamente involuntária não só dos músculos vaginais, como também dos músculos das pernas e abdômen – tornando o sexo praticamente insuportável para a mulher. Na verdade, a mulher tenta não ficar tensa, mas é quase como se o corpo dela não o permitisse.
A condição pode causar dores extremas ou agudas na vagina e abdômen inferior, pressão intensa ou sensações de queimação – que pode durar vários dias. O tratamento pode ser feito com o uso de dilatadores vaginais, fisioterapia da região pélvica ou através de terapia comportamental cognitiva.
Muitas mulheres recorrem aos consultórios ginecológicos com queixas de desconforto genital. Para isso, as consultas de rotina podem auxiliar no diagnóstico antecipado de doenças que podem atrapalhar a rotina das pacientes.
Entre as queixas comuns, destacam-se os sintomas associados ao Vaginismo, um distúrbio que afeta algumas mulheres e que, se não for tratado, diminui significativamente a qualidade de vida da mulher.
O que é Vaginismo?
A vagina é uma zona repleta de músculos. Essa peculiaridade torna possível a existência dos partos naturais, por exemplo, visto que são os músculos os responsáveis pelas contrações e dilatações. No caso do vaginismo, no entanto, os músculos se contraem de forma involuntária, originando dores, sobretudo durante as relações sexuais.
As contrações podem acontecer do nada e a qualquer momento, interferindo ou impedindo completamente a penetração vaginal. Esta reação nem sempre ocorre “exclusivamente” durante a relação sexual.
O evento também pode ocorrer com a inserção de tampões, durante exames ginecológicos, com a penetração dos dedos durante a masturbação ou as preliminares, ou com o uso de brinquedos sexuais ou dilatadores vaginais.
As mulheres que sofrem do distúrbio relatam muitas dificuldades em ter relações e manter uma rotina sexual ativa, visto que sentem muito desconforto durante a penetração.
Por conta dessa frustração, tendem a procurar “abafar o problema” não procurando um médico. Este é um grande erro, já que, sem a ajuda profissional, dificilmente o problema será resolvido.
O primeiro passo para conseguir lidar com a situação é entender que o problema merece um diagnóstico e um tratamento como qualquer outro. Na saúde não pode existir espaço para tabus sociais – é fundamental que as mulheres que sofram de quaisquer desconfortos relatem sempre a situação com o médico.
Classificação/Tipos
A condição pode ser primária ou secundária. O vaginismo primário refere-se a um problema vitalício, ou a um indivíduo que nunca foi capaz de penetrar sem dor.
Os casos primários geralmente apresentam sintomas mais cedo – por vezes com as primeiras tentativas de uso do tampão ou masturbação, ou com a incapacidade de tolerar exames ginecológicos que fazem uso de um espéculo para abrir o canal vaginal.
O vaginismo secundário refere-se a uma condição adquirida, ou seja, a mulher que anteriormente se sentia confortável com a penetração vaginal, não consegue mais tolerar essa mesma atividade penetrativa.
Muitas vezes, circunstâncias atenuantes como o parto, infecções bacterianas, infecções fúngicas recorrentes, ou traumas físicos e sexuais podem levar ao vaginismo secundário.
Além disso, a medicina também categoriza o vaginismo pela gravidade da condição: completa ou situacional. Uma mulher com vaginismo completo é incapaz de tolerar qualquer forma de penetração.
O vaginismo situacional ocorre quando a paciente é capaz de tolerar o uso de absorventes internos ou fazer um exame ginecológico com o uso de um espéculo, mas não consegue outras formas de penetração, como a relação sexual.
Principais causas
Existem muitos motivos que podem originar dores na vagina durante as relações sexuais. O vaginismo é apenas uma das causas possíveis. Outras questões, como por exemplo as infecções ou a falta de lubrificação, também podem atrapalhar a vida sexual feminina.
Existem várias possibilidades para essas manifestações. Algumas surgem desde o início da vida sexual e outras ocorrem apenas numa fase posterior da vida, sucedendo um momento inicial de relações normais.
“Existem muitos motivos que podem levar a mulher a desencadear o evento”. Ela pode ter tido uma infecção vaginal grave no passado, e ficou muito desconfortável com isso, levando a que a lembrança dessa dor persista, e a leve a contrair o órgão durante a penetração. A mulher também pode ter sido agredida, abusada sexualmente no passado, estuprada, ou ter sofrido outras formas de trauma: verbal, emocional e psicológica, e carrega essa memória com ela a todo o instante. Ou, pode ter sido ensinada, por qualquer motivo, que o sexo é pecaminoso ou maligno, levando-a a contrair o órgão durante o ato, porque sente (vergonha, medo, culpa, etc.) .
As causas exatas do vaginismo ainda não são completamente conhecidas e dependem de muitos fatores. O tipo de vaginismo mais comum, que ocorre desde o início da vida sexual, está relacionado a questões psicossomáticas.
O vaginismo tardio, que acontece depois de uma fase da vida adulta, está possivelmente ligado a uma experiência que não foi positiva – mesmo que seja apenas psicológica.
A questão problemática é que as mulheres que sofrem com o vaginismo passam por um ciclo bem cruel. Como percebem que vão sentir dor durante o ato, passam a sofrer com crises de ansiedade que precedem as relações sexuais. Consequentemente, relaxam menos, o que agrava ainda mais a dor.
Tendo isso em vista, o acompanhamento psicológico é essencial para o tratamento do vaginismo, visto não ser um problema apenas de origens físicas.
Fatores de risco
Por ter causas desconhecidas, não existe ainda um grupo de risco concretamente associado ao distúrbio. No entanto, têm-se percebido que as mulheres que tiveram um desenvolvimento sexual precoce ou violento tendem a sofrer mais com esse mal.
Os tabus que são criados em volta do prazer sexual feminino também contribuem significativamente para a origem do vaginismo, por isso é fundamental que as questões sexuais sejam trabalhadas a fim de minimizar os possíveis riscos existentes.
Principais sintomas
Os sintomas do vaginismo não são muito comuns, daí a preocupação de algumas mulheres. A maioria das pacientes chega aos consultório médico com relatos de contração dos músculos pélvicos, muita dor durante a relação sexual e, por consequência, autoestima baixa e sintomas de ansiedade. Os principais sintomas podem incluir:
- relação sexual dolorosa (dispareunia), com uma sensação de aperto, dor, queimação e ardência;
- difícil ou impossível penetrar a vagina;
- dor na vagina durante o ato (a longo prazo), com ou sem causa conhecida;
- dor durante a inserção do absorvente interno;
- dor durante o exame ginecológico, causada pela introdução do espéculo;
- espasmos musculares generalizados ou interrupção da respiração durante a tentativa de relação sexual.
A dor pode variar de leve a severa. Nota: o vaginismo não impede que a mulher fique sexualmente excitada.
Buscando ajuda médica
O desconforto proporcionado pelos sintomas faz com que seja necessária a intervenção por parte de um especialista. O médico poderá auxiliar nos sintomas e propor alguma terapia coletiva para o casal, visto que a situação interfere diretamente na vida dos dois.
Como confirmar o diagnóstico
O vaginismo é diagnosticado por um especialista. Para chegar à conclusão do diagnóstico, o médico realizará um questionamento prévio com a paciente juntamente a exames clínicos e de imagens.
Os exames de imagem não detectam necessariamente o distúrbio, mas excluem as possibilidades de outras doenças existentes que geram sintomas semelhantes.
Como é feito o tratamento
Como é um problema delicado, o médico deve avaliar não apenas a paciente que apresenta queixas, mas sim o casal. É um tratamento coletivo que envolve muitas especialidades.
Somente assim as chances de êxito são maiores. O tratamento, além do acompanhamento psicológico, envolve o uso de possíveis medicamentos que consigam aliviar os sintomas das contrações e da dor durante a relação.
É preciso avaliar detalhadamente cada caso de forma individual. Só assim é possível contribuir para a resolução do problema.
É importante que a mulher tenha total apoio por parte do companheiro e família, sobretudo durante o tratamento – que pode ser demorado. Existem muitas terapias alternativas capazes de auxiliar nesses momentos, como por exemplo a fisioterapia do assoalho pélvico.
É importante o parceiro participar nos exercícios de fisioterapia – que podem incluir o uso de dilatadores vaginais (envolve inserir um dispositivo cilíndrico na vagina para ajudar a esticá-la). O envolvimento do parceiro na introdução do dilatador e, eventualmente, passar para os dedos, cria intimidade e permite que a mulher se sinta novamente confortável com seu parceiro.
A acupuntura e o mindfulness também pode desempenhar um papel importante no tratamento – através de exercícios de respiração e aprendizagem de novas formas de relaxar.
A inserção de agulhas em pontos de gatilho e até mesmo a aplicação de injeções de Botox, podem ser usadas para promover o relaxamento da tensão dos músculos da vagina.
A terapia de reposição hormonal pode ser útil em mulheres com alterações no tecido genital mediadas por hormônios que estão causando a contração muscular involuntária.
As cirurgias não são indicadas para estes casos, já que o vaginismo não é provocado por uma deficiência na formação do aparelho reprodutor.
(Uma nota de cautela: Muitas pacientes presumem que os exercícios de kegel são úteis, no entanto, eles são totalmente inadequados em pessoas com vaginismo porque envolvem o “aperto muscular”, que pode potencialmente agravar o problema.)
Convivendo/ Prognóstico
A paciente deve entender a questão e realizar um trabalho coletivo unindo seu companheiro e uma equipe especializada. O primeiro passo é perder as inseguranças e a vergonha que envolve a questão para entender que é um problema e deve ser tratado como tal.
Complicações possíveis
Não há complicações físicas associadas ao vaginismo além dos sintomas de desconforto já citados. No entanto, é possível que a mulher, por conta da frustração desenvolvida nas relações sexuais, possua sintomas de ansiedade e depressão. É fundamental conseguir enfrentar o problema para que essas complicações posteriores não surjam, já que diminuem significativamente a qualidade de vida do casal.
Vaginismo tem cura?
Se a mulher tiver vontade e for acompanhada por uma equipe multidisciplinar sim, é possível curar ou, ao menos, diminuir significativamente os seus sintomas.
Como prevenir
O bom desenvolvimento da sexualidade é fundamental para evitar casos de vaginismo, sendo esta a melhor prevenção. É necessário que o sexo seja visto como um processo natural e realizado apenas quando as pessoas se sentem realmente confortáveis.
Ginecologista e Obstetra - CRM SP-119093
Dra Camille Vitoria Rocha Risegato - CRM SP nº 119093 é formada há 14 anos pela Fundação Técnico Educacional Souza Marques, Rio de Janeiro.
> Consultar CRM (Fonte: https://portal.cfm.org.br/index.php?option=com_medicos&Itemid=59)
Dra Camille mudou-se para São Paulo onde realizou e concluiu residência médica em Ginecologia e Obstetrícia (RQE nº 25978) no Centro de Referência de Saúde da Mulher no Hospital Pérola Byington em 2007.
Em 2008 se especializou em Patologia do Trato Genital Inferior nesse mesmo serviço. Ainda fez curso de ultrassonografia em ginecologia e obstetrícia na Escola Cetrus.
Trabalha em setor público e privado, atendendo atualmente em seu consultório médico particular situado na Avenida Leoncio de Magalhães 1192, no bairro do jardim São Paulo, zona norte de São Paulo.
Também pode encontrar a Dra Camille no Linkedin, Facebook e Instagram
.- Basson, B. (n.d.). Vaginismus. Merck Manuals Consumer Version. Retrieved from http://www.merckmanuals.com/home/women-s-health-issues/sexual-dysfunction-in-women/vaginismus
- Vaginismus. (2018, January 1). Retrieved from https://www.nhs.uk/conditions/vaginismus/
- What are kegel exercises? (n.d.). Retrieved from https://www.nafc.org/kegel/
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